Falar para um candeeiro...

domingo, 19 de maio de 2013

Os "loucos de Rilhafoles": o Hospital Miguel Bombarda

O delírio, explicavam os médicos, Um impulso epilético, explicavam os mé­dicos, e assinava-se a certidão de óbito numa segurança tranquila: ninguém tem culpa. E no entanto crescia em mim uma espécie de vergonha, ou de aflição, ou de remorso sempre que preenchia um boletim de internamento e aferrolhava no manicómio as íris surpreendidas e tímidas que me fitavam. Ninguém tem culpa e eu pre­ciso de comer, obtive este emprego do Estado, procedi a exames, concursos, testes de cruzinhas, provas públicas pago a renda de casa, eletricidade, gás, aluguer de tele­fone, gasolina, e justifico os vinte contos que ganho aprisionando pessoas no asilo, escutando desatento as inquietações e as suas queixas, chegando tarde ao dispensário para consultas apressadas (Que mal faz se os doentes esperam por mim das nove ao meio-dia, que mal faz se em cinco minutos os oiço e os despacho (…))
 
António Lobo Antunes, Conhecimento do Inferno, Lisboa, 1983, Publicações D. Quixote (6ª edição), p. 144-5)
 

1 comentário:

  1. Lendo o livro "doida não e não" também se fica a conhecer outros motivos que na época levavam pessoas para estes asilios, que no caso era a instituição " conde Ferreira".

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