Falar para um candeeiro...

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Barbarossa, a operação de Zhukov em Moscovo e o início do fim (junho, 1941)


A Batalha de Moscovo enterrou a Blitzkrieg e a invencibilidade alemã (mais de 200 dias de batalha e mais de 7 milhões de soldados, de ambas as partes. 1,5 milhão ficou para sempre nos campos da batalha)

A 22 de junho de 1941 tem início a operação Barbarossa. Hitler terá decidido que chegou a altura de atacar a União Soviética. O Plano era simples: o exército alemão iria desencadear um ataque maciço com base na blitzkrieg. Tratava-se, no fundo, de repetir a estratégia militar que já tão bons resultados tinha dado. Esta operação abriu a Frente Leste, que se tornou o maior teatro de guerra e o cenário das maiores e mais brutais batalhas de toda a II Guerra.


No início de Outubro, tal como Hitler tinha previsto, o exército alemão estava às portas de Moscovo. Estaline e o seu estado-maior discutem se devem abandonar a cidade. Estaline chama o marechal Georgy Konstantinovich Zhukov e pergunta-lhe:

- Podemos defender Moscovo?
Zhukov não hesita na sua resposta positiva. Moscovo será defendida.

Estaline, por confiança no seu marechal ou porque não queria dar um exemplo de fuga quando tudo parecia perdido, decide não abandonar Moscovo. A 7 de Novembro o exército desfila na Praça Vermelha nas comemorações da Revolução Bolchevique. Ao longe ouve-se o disparo das armas alemãs que estão apenas a 40 km da cidade e cujos postos avançados chegam mesmo a entrar em algumas estações de metro.

Zhukov mostra-se à altura da sua promessa e numa reviravolta militar que já não parecia possível consegue pôr em retirada o exército alemão. Em Dezembro a Rádio Moscovo anunciava ao mundo que os alemães estavam em retirada, depois de terem frustrado os seus esforços para cercar a capital soviética.

Era a primeira vez que o exército alemão recuava para não voltar a avançar no terreno, era o início da derrota dos alemães. 
Depois do general Zhukov, o herói de Moscovo, surgiria ainda o herói de Estalinegrado, o general Chuikov, comandante das tropas soviéticas na Batalha de Estalinegrado (1942-43), o ponto de viragem decisivo na frente leste.

  

Soldado russo armado com um prisioneiro de guerra alemão




 Parada militar na Praça Vermelha nas comemorações da vitória na Batalha de Moscovo



Não foi um passarinho que me disse, foi um vampiro

Não se trata dos milionários serem “imunes” a tempos de crise. Pelo contrário: os milionários existem por causa dos tempos de “crise”. É preciso haver muito desemprego e falta de rendimentos num lado para o bolo "aparecer” no outro lado.
Diz a notícia que o aumento de milionários em Portugal resulta da poupança e do investimento (“as bolsas constituem uma boa plataforma para aumentar rendimentos”). “O investimento é um risco, nestes mercados, mas pode ser calculado e gerar bons lucros. Exceto para quem enfrenta desemprego, ou perda de rendimentos, que não tem possibilidade de poupança e de investimento.”
Sabemos que já não existe a velha fábrica da revolução industrial nem o velho operário do mundo de Dickens. O sistema financeiro é hoje o grande dispositivo que produz fortunas colossais a uma minoria, que controla a produção e o trabalho (a economia real só consegue funcionar financeirizada), que aumenta as desigualdades e que reproduz uma dívida infinita.
Tranquilamente, o sistema financeiro fecha todo o circuito entre a moeda, a propriedade e o trabalho, como aqueles pássaros que, no filme de Hitchcock, vão surgindo sem ninguém dar por eles ou saber de onde vêm. De repente, são centenas, milhares, milhões…
Nesse mesmo filme, o mestre Hitchcock rejeita explicitamente o uso de aves de rapina. É o recurso a pássaros “normais, de todos os dias” que torna o filme especialmente aterrador.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

E se, de repente, um técnico lhe ensinasse a andar de bicicleta?

Na fotografia o escritor William Faulkner ("não apanhes tanto sol, não fumes e senta-te direito")


A nossa vida quotidiana está cada vez mais “cognitivizada”, regulada por peritos que nos dizem a todos como devemos viver, num permanente “estado da arte” científico. Os saberes, por natureza, práticos, vivenciais e contextualizados, transformam-se em conhecimentos, algo que em si é abstrato, formal e desterritorializado. Uma lógica do rigor, da medida, do especialista, que desapropria o indivíduo da sua relação pessoal e social com o conhecimento.
 
 
Ensinei a minha filha a andar de bicicleta. Foi no jardim do Campo Grande, e essa vivência fará da sua memória de criança e da minha própria memória… um “foi aqui que aprendi a andar de bicicleta…” e um “foi aqui que te ensinei a andar de bicicleta...”
 
Em alternativa à construção desta memória relacional, dispomos hoje de novas possibilidades: preencher uma ficha de inscrição (em anexo) - dados pessoais, equipamentos a utilizar, pagamento, NIB, faturas, autorização expressa de encarregados de educação… e assim um dia poder dizer “foi aqui que um técnico da Divisão de Sensibilização e Educação Sanitária e Ambiental me ensinou a andar de bicicleta”.
O velhinho “aprender a andar de bicicleta” com as rodinhas extra ou com muitos tombos entra assim também no circuito da mercadorização. É mercadoria, compra-se e vende-se.

Naturalmente que não estou a questionar esta iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, a qual, admito sinceramente que terá os seus méritos, muito menos questiono as “competências parentais” (outra expressão criada por mais um especialista). Estou apenas a questionar toda esta racionalidade técnica do mundo em que vivemos.
 
Acho que fiquei assim desde que a ASAE, o Grande Irmão Técnico, se lembrou de proibir os galheteiros. Embora, confesso, que era sempre uma emoção trazerem-me um galheteiro às escondidas para eu poder temperar com azeite as batatas cozidas que acompanhavam as sardinhas, num pequeno restaurante da minha rua.
 
 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Farinha amparo: brinde do dia



A coisa mais inteligente que ouvi nos últimos tempos vem de uma ex-concorrente do Big Brother. Diz fantasticamente: "A crise está na cabeça das pessoas".
  
E tem razão. A crise só existe na cabeça das pessoas que teimosamente insistem em chamar "crise" àquilo que se chama capitalismo.

Não há nenhuma crise, o que há é um modelo social, político e económico.

O riso que mata o poder

Izis Bidermanas

Pierre Clastres, no capítulo VI - “De que se riem os índios?” - do seu o livro A sociedade contra o Estado, observou que a vida quotidiana dos “primitivos” apesar da sua dureza, proporciona verdadeiros momentos de humor e de um sentido agudo do ridículo, que os faz brincarem com os seus próprios temores.
Sendo o xamã e o jaguar seres poderosas e perigosos, que inspiram o medo, o respeito e mesmo o ódio, os índios Chulupi despertam, através da narrativa mítica a vontade de rir dos seus próprios temores. Como não podem rir abertamente do poder (representado pelo xamã e pelo jaguar), recorrem ao simbolismo do mito.
  
Estes mitos representam uma ridicularização dos mais fortes, conduzindo os índios a grandes manifestações de riso, a um “assassinato" simbólico dos poderosos. O riso é um instrumento que, de certa forma, controla o poder, questionando e desmistificando o medo imposto pelos jaguares e pelos xamãs. O escárnio e  ohumor que provocam esse riso, desempenham funções políticas relevantes da vida social dos grupos.

 

“A contradição entre o imaginário e o real da vida quotidiana resolve-se quando se reconhece nos mitos uma intenção de escárnio: os Chulupi fazem ao nível do mito o que lhes é interdito ao nível do real. Ninguém se ri dos xamanes reais ou dos jaguares reais porque eles não são de todo para rir. Trata-se pois para os índios de pôr em questão, de desmistificar aos seus próprios olhos o temor e o respeito que lhes inspiram os jaguares e os xamanes. Esta questionação pode operar-se de duas maneiras: ou realmente, e mata-se então o xamane julgado demasiado perigoso ou o jaguar encontrado na floresta; ou simbolicamente, através do riso, e o mito (a partir desse momento instrumento de desmistificação) inventa uma tal variedade de xamanes e de jaguares que é possível rir-se deles, uma vez despojados dos seus atributos reais para se verem transformados em idiotas da aldeia.” (Clastres, Pierre, A sociedade contra o Estado, Edições Afrontamento, Porto, 1979, p. 143)

  
Neste vídeo, Álvaro Santos Pereira ri-se abertamente. Não se ri propriamente de um adversário, mas dada a atual relação de forças entre a economia e as finanças (com clara desvantagem para a economia, como todos sabemos), ri-se certamente do poder. Ri-se do xamane(*) das finanças, como os Chulupi.

(*) Xamane ou xamã: Sacerdote e feiticeiro nas civilizações da Ásia central e setentrional; Curandeiro, em certas culturas africanas e ameríndias.



Alvaro Santos Pereira ri-se com gozo ao Ministro das Finanças

 
 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desabafo do dia


Ainda a propósito de Hipnos, o sono...

por aqui, neste nosso cantinho à beira mar, quando algum ministro acorda não é para implodir o Ministério da Educação, como Nuno Crato chegou a sugerir, é para atender os telefonemas do Ministro das Finanças.

Alô…”

O sono é irmão da morte


 John William Waterhouse, Hipnos e Tanatos

Segundo a mitologia grega, Hipnos é a personificação do sono, da sonolência, filho de um único progenitor, de Nix (a noite, a escuridão) ou de Érebo (as trevas primordiais, a escuridão profunda no momento da criação). De entre os seus irmãos, o mais importante é o seu irmão gémeo Tanatos, a personificação da morte.

Hipnos, a sonolência representa um estado reduzido de consciência com a suspensão temporária da atividade percetivo-sensorial, que é muitas vezes característica de uma cidadania ausente e sem esperança, distanciada dos fóruns políticos e das reivindicações sociais.

No Brasil, em poucos e agitados dias, o gigante acordou. De repente, uma nova perceção tomou conta da população diante dos protestos pela redução das tarifas dos transportes públicos. 

Mas há dois aspetos muito interessantes no acordar do gigante: é que ele “acorde” num ambiente governativo bem mais progressista do que outras administrações anteriores e, sobretudo, que ele acorde por “vinte centavos” de aumento nas tarifas de transportes.

Por falar em hipnos(e), “Mal-estar na civilização” é o título de uma das obras de Freud que dificilmente poderia definir melhor aquilo que os cidadãos sentem face à sociedade em que vivem: a falência da representatividade do poder legislativo, a imensa distância do poder executivo face aos cidadãos e o total descrédito do poder judicial. O motivo que acorda o gigante é este, não são vinte centavos.

Mas no acordar do gigante existem ainda outras questões que merecem ser pensadas, como a surpresa dos que sempre imaginaram uma mobilização partidária para qualquer crise social ou política. A espontaneidade da multidão nunca foi levada na devida conta, deveria haver sempre um motivo para a mobilização da multidão. E o motivo teria de ser forte - não, certamente, os vinte centavos.

Não se pode cair falácia de um país "sem partidos”, mas os partidos serão obrigados a refletir sobre a sua atuação numa cidadania mais exigente.

É muito simbólico que o irmão de Hipnos, a sonolência, seja Tanatos, a morte. 

O Grande Irmão Credor

Gerard Casttelo Lopes
(...)
A maioria dos portugueses viveu exatamente na realidade que lhe puseram à frente. A dívida que esses portugueses contraíram foi, maioritariamente, para a habitação: “A componente mais importante da dívida dos particulares é aquela que se reporta à aquisição de habitação. No ano de 2011, segundo o Eurostat, a taxa de propriedade imobiliária, isto é, a percentagem das famílias com habitação própria em Portugal era superior a 75 %. Para adquirir habitação própria, as famílias endividaram--se muito junto da banca. Em dezembro de 2012, o crédito imobiliário às famílias representava um montante equivalente a 71,7 % do PIB.” (“Conhecer a dívida para sair da armadilhas”; Relatório preliminar do Grupo Técnico da IAC, p. 95)


A realidade era esta:
  • Os sucessivos governos manifestaram o maior desinteresse na provisão pública de habitação, que se limitava apenas apenas à construção de habitações em bairros sociais;
  • O mercado de aluguer da habitação não existia;
  • O planeamento urbano foi quase inexistente: 5,7 milhões de imóveis edificados para 3,7 milhões de famílias;
  • Os governos promoveram ativamente o incentivo à compra a crédito de habitações novas, através de Incentivos fiscais. O governo oferecia  bonificações de taxas de juro e deduções fiscais nas contas de poupança habitação. A mensagem era simples: endividem-se para comprar casa. Nós até oferecemos nos impostos.
Puseram-nos as casas à frente num excelente negócio para a especulação imobiliária e para os bancos, de que agora só os devedores são responsáveis.

  • Como se a abundante concessão de crédito, graças ao financiamento externo abundante e barato, estivesse a ser devidamente regulada atentamente pelo Banco de Portugal (viu-se a atenção do Banco de Portugal no caso BPN);
  • Como se os credores não incentivassem irresponsavelmente o consumo/crédito;
  • Como se o próprio Estado não favorecesse o endividamento através de incentivos fiscais.

Onde fica esta responsabilidade?

O verdadeiro lastro do sistema financeiro sobre o dinheiro não é o ouro, o papel-moeda, o banco central, o PIB atual ou outra medida de riqueza existente, mas a confiança. A confiança em garantir o pagamento das dívidas e manter o ritmo equilibrado entre fluxos de crédito e débito.
A dívida está lastreada na capacidade de uma expectativa ser garantida (pelo sistema judiciário, pela polícia, pelo FMI, mas, sobretudo, pela construção de uma moral, que culpabilize o devedor e o obrigue a pagar, senão por forças das instituições, pela obrigação moral  imposta pela culpa.
Todo o jogo da dívida assenta não em operações financeiras, mas no poder de vincular e controlar o futuro.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Juro por minha honra não copiar

Robert Doisneau, L'information scolaire, école rue Buffon, Paris Vème, 1956

Uma novidade do Júri Nacional de Exames para este ano: o documento assinado pelos alunos no qual declaram não ter na sua posse telemóvel nem qualquer outro material não autorizado para realizar a prova (Modelo 14/JNE).

Os alunos devem, à entrada da sala de exame, efetuar “auto verificação cuidada a fim de se assegurarem que não possuem qualquer material ou equipamento não autorizado, em particular telemóveis”. A linguagem é, como todo o ritual do serviço de exames, formal e aparatosa.

Depois de se enterrar o velhinho e simbólico quadro de giz das salas de aula, a “caixa de Pandora” que a tecnologia abriu é fechada durante 2 horas e meia por força de uma declaração.
 
Não bastava o valor pedagógico de uma instrução oral, é necessário o valor policial da declaração escrita. Se é assim que se educa para a responsabilidade, venham de lá mais declarações: “juro estudar”, “juro não copiar”, juro portar-me bem”… pode ser que baste assinar um papel.

 

“É uma revolta?, Não Sire, é uma revolução”

O Juramento de Péla

O juramento de Péla, no dia em que cerca de 1 milhão de pessoas saem à rua no Brasil. A História tem destas coisas…

 
Quando a 1 de Maio de 1789 Luís XVI convoca finalmente os estados gerais (cortes) estavam, sem ter a menor possibilidade de o saber, a dar início a uma das mais simbólicas revoluções da História.
As cortes reúnem em primeira sessão a 5 de Maio e rapidamente surgem divergências entre os deputados. O rei, a nobreza e o clero pretendiam um voto por Ordem e que estas ordens reunissem em salas separadas. Os deputados do “terceiro estado” (o povo, representado pela burguesia) recusam, pretendem um voto por deputado. Argumentam que eles sozinhos representam a nação e a Assembleia reunirá com ou sem os representantes das outras ordens. A 17 de junho o rei tenta intervir nos acontecimentos, ordenando o fecho da sala de reuniões que era utilizada pelos nobres, procurando dissolver a Assembleia Nacional e impedindo pela força o acesso dos deputados do terceiro estado à sala onde a Assembleia deveria reunir.

 
O deputado Mirabeau declara então: “Vão dizer aqueles que aqui vos enviaram que estamos aqui pela vontade do povo e que só deixaremos os nossos lugares pela força das baionetas” e propõe que a Assembleia declare o princípio da imunidade dos deputados.

 
Os deputados, impedidos de aceder à sala onde a Assembleia devia reunir, contornam a decisão real ocupando um salão de jogos do palácio, na parte antiga de Versailles, salão que dará o nome ao juramento que os deputados aí farão a 20 de junho de 1789 pelos membros do terceiro estado.  
Jean-Joseph Mounier e o Abade Sieyès redigem então o que ficará conhecido pelo juramento do “Jogo da Péla” (Serment du jeu de paume) que estabelece que ficariam até fazerem a Constituição Francesa, onde constariam os direitos políticos e jurídicos dos cidadãos franceses. Apenas um deputado não vota a favor. O juramento feito pelos representantes da Assembleia Nacional era o de Liberdade, Igualdade e Fraternidade (lemas da Revolução Francesa). A partir deste momento era apenas uma questão de tempo.
 
 
A 25 de junho, 47 deputados da nobreza iniciam a sua participação na Assembleia;
A 26 de junho, os bispos d'Orange  e de d'Autun (Talleyrand), o arcebispo de Paris e três sacerdotes iniciam a sua participação na Assembleia;
A 27 de junho, o rei reconhece a realidade: “Se eles não querem ir, eles que fiquem” e ordena aos restantes deputados que se juntem ao terceiro estado;
A 9 de julho, os deputados proclamam-se como a Assembleia Nacional Constituinte;
A 14 de julho a recém formada milícia de Paris toma de assalto a Bastilha.

 
Um dia depois Luís XVI recebe ao despertar a visita do conde Rochefoucauld com a notícia do assalto à Bastilha e pergunta:
- «C’est une révolte ? »
- «Non sire, ce n’est pas une révolte, c’est une révolution.» responde o Duque de Rochefoucauld.
 
 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pergunta do dia

Bertolt Brecht ouvindo Pelé

"Primeiro  a barriga, depois a moral": a atualidade de Bertolt Brecht segundo Pelé


Depois do auto golo de Pelé, sabemos que:
a)  Pelé é um poeta;    
b)  Romário é um filósofo;
c)  Pelé é mesmo o Melhor Jogador do Século (*);
d)  Pelé afinal é a favor dos manifestantes.


(*) Como é sabido, em 2010, a eleição do Melhor Jogador do Século promovida pela FIFA, gerou muitas críticas. Maradona teve 53% dos votos, contra apenas 16% de Pelé. Para resolver ao imbróglio o presidente da entidade, decidiu conceder dois prémios: um pelo voto dos especialistas, outro pelo voto popular via internet. Pelé lá ganhou o seu prémio da FIFA...
 

Kennedy: "Ich bin ein berliner” (Eu sou um berlinense)


John F. Kennedy em Berlim
 
Barack Obama já chegou a Berlim, 50 anos depois de JFK
 
  

A 26 de junho de 1963 na varando do edifício Rathaus Schöneberg na praça Rudolph-Wilde-Platz que posteriormente viria a mudar de nome para John F. Kennedy-Platz, teve lugar aquele que foi um dos mais famosos discursos da história.
“Ich bin ein Berliner”. Kennedy terá decidido pronunciar esta frase apenas alguns minutos antes de iniciar o seu discurso perante um milhão de berlinenses que o aguardavam ocupando toda a praça. E acrescentará, já em inglês, que onde houver um homem livre ele será também berlinense.
A história deste discurso começa alguns anos antes, mais concretamente quando os russos estavam às portas de Berlim, em abril de 1945 e Hitler sonhava ainda poder salvar Berlim e o seu III Reich, que iria durar “mais de 1000 anos”, da pior de todas as derrotas: a capital do Reich conquistada pelo Exército Vermelho.
 
Mas a guerra estava definitivamente perdida para os alemães e os oficiais que ainda restavam sabiam disso. Apenas Hitler, Joseph Goebbels (que nunca permitiu que um facto estragasse uma boa mentira) e o seu círculo mais próximo, por medo ou convicção, não o admitiam.
 
Durante março e abril, a aviação aliada bombardeou Berlim abrindo assim caminho para o avanço do Exército Vermelho. Seria este o contributo máximo das forças aliadas para a Batalha de Berlim. Para general Dwight D. Eisenhower (comandante das forças aliadas), não havia inconveniente no facto de Berlim ser conquistada pelo Exército Vermelho, uma vez que considerava que dificilmente, finda a guerra, Berlim ficasse na órbitra comunista. Sabia também que a batalha por Berlim exigiria um enorme sacrifício em vidas que ele pessoalmente não queria ordenar. Fosse porque fosse os aliados tinham aberto o corredor para Berlim e deixavam-no desimpedido para o avanço do Exército Vermelho. Estaline, ao contrário, não partilhava do mesmo sentimento: mais algumas dezenas de milhares de mortos no Exército Vermelho não fariam grande diferença.
 
A 20 de abril é o dia de aniversário do Führer e a artilharia russa bombardeia o centro de Berlim. No dia 26 de Abril caiem os primeiros obuses no edifício da Chancelaria. Para Hitler era o fim. Na noite de 30 de abril a bandeira vermelha é, de facto, hasteada no topo do edifício do Reichstag.
 
O acordo final para a divisão da Alemanha estabelecia a sua divisão em quatro partes (zonas de influência francesa, britânica, americana e soviética) e a mesma regra seria aplicada a Berlim. Mas havia um problema. Berlim ficava em território alemão atribuído aos soviéticos pelo que, na prática, os habitantes de Berlim não soviético estavam impedidos de aceder as zonas americanas, britânicas e francesas e por outro lado os habitantes da zona soviética de Berlim tinham na sua cidade a possibilidade de abandonar a Berlim soviética para a Berlim aliada.
Fontes históricas indicam que entre 1949 e 1961 cerca de 2,5 milhões de alemães abandonaram a zona soviética. Até que os soviéticos decidiram que já seria demais. A 13 de agosto de 1961 são instalados os primeiros metros de arame farpado separando a parte oriental e ocidental de Berlim. Eram uns primeiros metros de um muro que chegou a ter 150 Kms, separando Berlim ocidental da Alemanha de leste e 45 Km separando Berlim oriental de Berlim ocidental.
A altura média do muro era de cerca de 3,5 metros e nele estavam também instalados três centenas de torres de vigia. Entre 1961 e 1989 o Volkspolize (policia do povo) matou  192 pessoas e feriu 200 que tentaram abandonar Berlim oriental. Entre 3 000 a 5 000 pessoas foram presas por suspeitas de pretenderem abandonar a Alemanha oriental.
Günter Litfin  foi a primeira vítima do Muro de Berlim, morto a tiro em 24 de agosto de 1961.Chris Gueffroy, a última vítima morta em  6 de fevereiro de 1989.
 
A 9 de novembro as televisões mostram milhares de berlinenses em cima do muro.
O Muro tinha acabado.