Na fotografia o escritor William Faulkner ("não apanhes tanto sol, não fumes e senta-te direito")
Naturalmente que não estou a questionar esta iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, a qual, admito sinceramente que terá os seus méritos, muito menos questiono as “competências parentais” (outra expressão criada por mais um especialista). Estou apenas a questionar toda esta racionalidade técnica do mundo em que vivemos.
A nossa
vida quotidiana está cada vez mais “cognitivizada”, regulada por peritos que
nos dizem a todos como devemos viver, num permanente
“estado da arte” científico. Os saberes, por natureza, práticos, vivenciais
e contextualizados, transformam-se em conhecimentos, algo que em si é abstrato, formal e desterritorializado. Uma lógica do rigor, da medida, do especialista,
que desapropria o indivíduo da sua relação pessoal e social com o conhecimento.
Ensinei
a minha filha a andar de bicicleta. Foi no jardim do Campo Grande, e essa vivência
fará da sua memória de criança e da minha própria memória… um “foi aqui que aprendi a andar de bicicleta…”
e um “foi aqui que te ensinei a andar de bicicleta...”
Em
alternativa à construção desta memória relacional, dispomos hoje de novas
possibilidades: preencher uma ficha de inscrição (em anexo) - dados pessoais, equipamentos
a utilizar, pagamento, NIB, faturas, autorização expressa de encarregados de
educação… e assim um dia poder dizer “foi aqui que um técnico da Divisão de
Sensibilização e Educação Sanitária e Ambiental me ensinou a andar de bicicleta”.
O
velhinho “aprender a andar de bicicleta” com as rodinhas extra ou com muitos tombos entra
assim também no circuito da mercadorização. É mercadoria, compra-se e vende-se.
Naturalmente que não estou a questionar esta iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, a qual, admito sinceramente que terá os seus méritos, muito menos questiono as “competências parentais” (outra expressão criada por mais um especialista). Estou apenas a questionar toda esta racionalidade técnica do mundo em que vivemos.
Acho
que fiquei assim desde que a ASAE, o Grande Irmão Técnico, se lembrou de
proibir os galheteiros. Embora, confesso, que era sempre uma emoção trazerem-me
um galheteiro às escondidas para eu poder temperar com azeite as batatas
cozidas que acompanhavam as sardinhas, num pequeno restaurante da minha rua.
Eu aprendi a andar e bicicleta na terra dos meus pais, com a técnica "vou ao chão e levanto-me a seguir e tento outra vez", isto com a ajuda do meu irmão.
ResponderEliminarTantas coisas que à uns anos atras eram aprendidas e descobertas na rua, são agora supervisionadas por um qualquer "técnico".
Evolução dos tempos ;).
O mundo que nos ensinou a andar de bicicleta reside agora na nossa memória...
EliminarAi o saudoso Campo Grande...
ResponderEliminarMas já agora será que depois da intruçao, o respeitoso técnico da Divisão de Sensibilização e Educação Sanitária e Ambiental vai passar ao seu instruendo um Certificado de Aptidão para Ciclista???
E só poderão circular nas várias ciclovias espalhadas pela Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa quem tiver o tal Certificado de Aptidão sob pena de algum "tecnico" da Emel autuar um ciclista menos atento por este não estar legalmente habilitado a condução de um velocípede???
Os ciclistas, devidamente encartados com o seu CAP, ficam mesmo a jeito do técnico da EMEL. Pois...
Eliminarhttp://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1520057&seccao=Centro
ResponderEliminarAh, pois é...
Fiquei a saber! Afinal já andam atrás deles...
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