Falar para um candeeiro...

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Não foi um passarinho que me disse, foi um vampiro

Não se trata dos milionários serem “imunes” a tempos de crise. Pelo contrário: os milionários existem por causa dos tempos de “crise”. É preciso haver muito desemprego e falta de rendimentos num lado para o bolo "aparecer” no outro lado.
Diz a notícia que o aumento de milionários em Portugal resulta da poupança e do investimento (“as bolsas constituem uma boa plataforma para aumentar rendimentos”). “O investimento é um risco, nestes mercados, mas pode ser calculado e gerar bons lucros. Exceto para quem enfrenta desemprego, ou perda de rendimentos, que não tem possibilidade de poupança e de investimento.”
Sabemos que já não existe a velha fábrica da revolução industrial nem o velho operário do mundo de Dickens. O sistema financeiro é hoje o grande dispositivo que produz fortunas colossais a uma minoria, que controla a produção e o trabalho (a economia real só consegue funcionar financeirizada), que aumenta as desigualdades e que reproduz uma dívida infinita.
Tranquilamente, o sistema financeiro fecha todo o circuito entre a moeda, a propriedade e o trabalho, como aqueles pássaros que, no filme de Hitchcock, vão surgindo sem ninguém dar por eles ou saber de onde vêm. De repente, são centenas, milhares, milhões…
Nesse mesmo filme, o mestre Hitchcock rejeita explicitamente o uso de aves de rapina. É o recurso a pássaros “normais, de todos os dias” que torna o filme especialmente aterrador.

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