Os banqueiros já disseram as maiores
alarvidades, como no PREC também se disseram. Foram ditas porque era possível
dizê-las. Não é o caso da frase "Morte aos Traidores!". Esta frase
está fora do ‘regime do discurso’, fora daquilo que é possível dizer, mesmo que
a Comissão Nacional de Eleições venha dizer que a frase não constituiu qualquer
tipo de crime, entendendo tratar-se de uma "metáfora".
Cada sociedade tem o seu regime de
verdade, a sua “política geral” de verdade”. Esse ‘regime’ é constituído
por aquilo que é possível “ver” (‘regime de visibilidade’) e aquilo que é possível
“dizer” (‘regime de dizibilidade’ ou 'regime do discurso'). A ‘verdade’ de cada regime não é propriamente o
conjunto dos enunciados verdadeiros, mas é sobretudo o conjunto das regras segundo as quais
se distingue o verdadeiro e o falso, no sentido daquilo que se pode e não se
pode dizer.
Assim, o 'regime de verdade' é constituído por esses discursos que funcionam
como verdadeiros, mas também pelas técnicas para a obtenção dessa verdade e pela definição
de um estatuto próprio daqueles que produzem e definem a verdade.
Considero o enunciado "Morte aos traidores!" particularmente
infeliz, mas não estou a tecer qualquer consideração normativa sobre esse enunciado. Isto é, não estou a dizer se ele devia ou não ser dito. Estou a dizer
que, simplesmente, não pode ser dito,
pois o conjunto de regras que determinam aquilo que em cada momento podemos dizer não o
permite (e por essa razão a frase foi retirada pelo MRPP). (aqui)
E dizer o que não se pode é um ato de
enorme coragem. E a coragem é uma virtude rara. Que pena ser desperdiçada numa
frase tão infeliz, que fala de "morte", de "traidores" e até dos bafientos "patriotas".