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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O “mundo não binário” de Judith Butler



“Alice pegou no leque e nas luvas e, como estava muito calor abanou-se enquanto dizia:
- Meu Deus, meu Deus! Como tudo hoje é estranho! Ontem, tudo parecia normal. Será que sofri alguma transformação durante a noite? Deixa-me ver… Será que era a mesma quando me levantei de manhã? Acho que já me sentia um pouco diferente. Mas, se não sou a mesma, quem diabo sou? Ah, aí é que está o grande problema…”
Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas
  

A luta do sujeito é um pouco como esta estranha luta de Alice: a de desvendar o grande mistério que envolve o modo como cada um de nós é produzido, o modo como se constituem formas de ver, de sentir e de estar no mundo?

A subjetividade, desde Platão à Modernidade, tem sido vista como sendo constituída por “essências” ou “linhas duras” (“molares”), que organizam as grandes divisões binárias: homens versus mulheres, brancos versus negros, heterossexuais versus homossexuais, crianças versus adultos, europeus versus africanos, etc.

Mas essas divisões apresentam todas o mesmo problema: supõem precisamente aquilo que é preciso explicar. E o que é preciso explicar é por que razão se dá como adquirido que milhões de homens, de mulheres, de heterossexuais, de homossexuais, etc., sejam todos iguais entre si e sejam todos diferentes em relação aos outros.

As linhas duras são modos hegemónicos de ser, com base em formações binarizadas muito endurecidas ou sobrecodificadas. E por isso funcionam como dispositivos de captura e controlo da subjetividade.


O que é verdadeiramente extraordinário no pensamento de Judith Butler, que a coloca numa  “galáxia” muito seleta é precisamente a capacidade de pensar um “mundo não binário” (aqui).




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