Falar para um candeeiro...

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"Morte aos Traidores!": da coragem e da estupidez



Os banqueiros já disseram as maiores alarvidades, como no PREC também se disseram. Foram ditas porque era possível dizê-las. Não é o caso da frase "Morte aos Traidores!". Esta frase está fora do ‘regime do discurso’, fora daquilo que é possível dizer, mesmo que a Comissão Nacional de Eleições venha dizer que a frase não constituiu qualquer tipo de crime, entendendo tratar-se de uma "metáfora".

Cada sociedade tem o seu regime de verdade, a sua “política geral” de verdade”. Esse ‘regime’ é constituído por aquilo que é possível “ver” (‘regime de visibilidade’) e aquilo que é possível “dizer” (‘regime de dizibilidade’ ou 'regime do discurso'). A ‘verdade’ de cada regime não é propriamente o conjunto dos enunciados verdadeiros, mas é sobretudo o conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro e o falso, no sentido daquilo que se pode e não se pode dizer. 
Assim, o 'regime de verdade' é constituído por esses discursos que funcionam como verdadeiros, mas também pelas técnicas para a obtenção dessa verdade e pela definição de um estatuto próprio daqueles que produzem e definem a verdade.

Considero o enunciado "Morte aos traidores!" particularmente infeliz, mas não estou a tecer qualquer consideração normativa sobre esse enunciado. Isto é, não estou a dizer se ele devia ou não ser dito. Estou a dizer que, simplesmente, não pode ser dito, pois o conjunto de regras que determinam aquilo que em cada momento podemos dizer não o permite (e por essa razão a frase foi retirada pelo MRPP). (aqui)

E dizer o que não se pode é um ato de enorme coragem. E a coragem é uma virtude rara. Que pena ser desperdiçada numa frase tão infeliz, que fala de "morte", de "traidores" e até dos bafientos "patriotas". 






Sem comentários:

Enviar um comentário