Há notícias que vale a pena guardar como
aquela onde pode ler-se que a “trajetória do ajustamento, indissociável da
trajetória da dívida”, está “para além das decisões dos políticos”, pois
"a sustentabilidade sobre a dívida pública e a dívida externa significa que
não há opções políticas para discutir". Foi o Governador do Banco de Portugal que disse (aqui).
“Não há opções políticas para discutir”!
O discurso do Governador cria um espaço
apolítico, colocando a dívida numa ordem neutra e desinteressada, exatamente como a Natureza a seguir o seu
inexorável caminho.
O Governador também já nos tinha dito que essa mesma Natureza é assim como uma espécie de uma grande “sapataria na Rua Augusta”, que “não calça todos os descalços que lhe passam à frente da porta, só aqueles que
podem pagar”. Queria ele dizer que um banco “também só dá crédito a quem tem possibilidade
de reembolsar”. (Aqui: “O mundo, essa grande sapataria”)
Para o Governador do BdP, as decisões sobre a dívida (e outras) não são, portanto, baseadas em escolhas políticas. Na verdade não são sequer escolhas,
mas forças que agem deterministicamente sobre a realidade. A dívida é uma
catástrofe natural.
Deve ter sido a mesma força determinista, a mesma
lei da gravidade que causou, precisamente há sete anos, a queda de uma “maçã” chamada Lehman Brothers.
Olha se caísse
na cabeça do Newton!
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