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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Joana Amaral Dias, a que “não se vende” e “Cristina”, a rainha do negócio


Como levar a sério o slogan “Eu não me vendo” dito por alguém que surge na capa da Revista “Cristina”, cuja diretora, rainha da TVI, se transformou ela própria num negócio altamente lucrativo (aqui) que vende tudo e mais alguma coisa?

Como levar a sério alguém que, tendo a possibilidade de acesso à imprensa, usa essa prerrogativa na promoção da espetacularização vazia da política? É a própria Cristina, a dona da revista, que apresenta Joana Amaral Dias na qualidade de “ex-deputada e líder do movimento Agir – pelo qual se candidata às eleições legislativas, no dia 4 de Outubro” (aqui).  É, portanto, na qualidade de estar ligado à política que alguém posa para esta fotografia.

Como levar a sério alguém que considera que ser notícia e ter visibilidade e fama são critérios para os eleitores decidirem o seu voto? Sabemos que em muitos casos, são estes mesmo os critérios de alguns eleitores. A questão aqui é quando é o próprio candidato a deputado que leva em consideração esses critérios.

Como levar a sério este assentimento ao culto da beleza quando essa caraterística pessoal é, supostamente, irrelevante no debate político? De resto, esta mentalidade é a mesma que estupidamente chama “velha” ou “feia” a figuras como Manuela Ferreira Leite.

Como levar a sério alguém que ao despir-se para chamar a atenção, capitaliza o famigerado (e machista) “estado de graça” feminino da gravidez, que nenhum homem se atreverá a questionar? Muitas mulheres, algumas até que não suportam o machismo, adoram aquele “avé Maria cheia de graça” de quem se sente o ventre do mundo.

Por último, a fotografia podia, enfim, primar pelo bom gosto. Mas nem isso! Já que a beleza é assim tão importante, podiam usar o photoshop também retocar as mãos da JAD que parece ter 70 anos; já ele está demasiado besuntado de óleo e, como não foi submetido ao mesmo nu integral que normalmente submetem as mulheres, como neste mesmo caso, alguém se esqueceu de lhe avisar que deveria ter tirado a carteira no bolso das calças. Lá se vai o artístico.

Para que fique claro, o problema aqui obviamente não é a nudez, que o falso moralismo tanto gosta de criticar. Era bom que o problema fosse esse, mas não é. A nudez em si  não é mais do que a simples e natural condição em que todos viemos ao mundo.
E muito menos se trata aqui de um problema de liberdade individual. A Joana Amaral Dias tem todo o direito de aparecer nua onde quiser. Como não me atinge o “atentado ao pudor”, por mim podia até aparecer no estado em que veio ao mundo no Castelo de S. Jorge. A Cristina Ferreira também pode editar as revistas que quiser, porque eu não serei obrigada a lê-las e o senhor da fotografia até pode aparecer de carteira enfiada no bolso, que o problema também não é de natureza estética.

Para além de todas as questões já referidas, o problema, ou melhor aquilo que começo a não conseguir entender, é o facto da líder de uma coligação ameaçar fazer da sua gravidez o facto político relevante da temporada, facto que, calculo, não será de fácil conciliação com o programa político dos outros partidos que integram a coligação, especialmente no caso de um partido revolucionário.

Depois da pompa de uma conferência de imprensa para anunciar as limitações de saúde devido à gravidez e depois de posar nua para a revista “Cristina” exibindo essa mesma gravidez, quais serão os próximos episódios? Uma cegonha aterrar em São Bento no dia 4 de outubro em direto para o programa do Goucha na TVI?








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