Falar para um candeeiro...

terça-feira, 8 de setembro de 2015

"Afinal, o que é que você quer?"

Max Scheler, Bruxelas, 1958


Com a nossa imaginação política presa à Modernidade Liberal (assente nas noções de indivíduo,  razão,  ciência, técnica…), é muito difícil fugirmos do consenso que tem dominado todo o pensamento e toda a linguagem.

Clarice Lispector dizia que “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” Mas como dizer o que ainda não tem nome? Se o tentarmos dizer, ficamos na situação algo histérica de produzirmos um discurso de insatisfação exatamente na mesma linguagem que produz o consenso. É o que acontece, por exemplo, quando tentamos compreender a dívida, que fala apenas a linguagem do credor.

Por isso, como diz Žižek (aqui), é preciso “não nos deixarmos distrair pela pergunta “Mas o que vocês querem?”. Porque essa é a pergunta da autoridade masculina a interrogar a mulher histérica: “Você só reclama! Tem alguma ideia do que realmente quer?”  Mas a pergunta do “chefe” (“o que é que você quer?”) esconde o sub-texto: “Diga-me numa língua que eu entenda ou cale-se!” .


Pois é! Mas a (única) língua que ele entende é a dele. E é por isso "aquilo que eu desejo não tem nome".





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