Falar para um candeeiro...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um tal Sankara

Thomas Sankara

Em 1987 na tribuna da 25ª Cimeira da Organização da Unidade Africana, Thomas Sankara, presidente do Burkina Faso, um pobre e minúsculo país africano, profere o mais vibrante e o mais corajoso discurso sobre a dívida.

O acontecimento sankariano inscreve a dívida numa outra zona de forças, causando um deslocamento de sentido da própria dívida. As suas palavras provocam um efeito de tensão. Naquele discurso (não me estou a pronunciar sobre a sua atuação geral como político), ele foi um enunciador da verdade, que confrontou o poder. Manifestou a sua palavra com risco, porque ele era muito menos poderoso do que aqueles a quem dirigiu a sua fala, o ele que dizia vinha “de baixo” e dirigia-se a alguém que está “em cima”.

Três meses depois Sankara seria assassinado.

Como um “parésico”, Thomas Sankara não é um profeta, não é um sábio, nem é um técnico. Não fala em nome de Deus, da sabedoria ou da técnica. Diz em nome de um ethos, da sua relação com a verdade. A parrésia é um tipo de atividade discursiva na qual aquele que enuncia tem uma relação específica com a verdade.

Ninguém exige esta coragem, muito menos este risco aos candidatos que agora vão entrar em campanha. Da maior parte deles já nem se espera aliás que digam a verdade. Sem expectativas, vou ouvir o que dizem sobre a dívida...


Nota: "Parrésia" etimologicamente significa “dizer tudo” (“pan”, todo) e “discurso” (“rhésis”) e quer dizer “franqueza”, “coragem de dizer a verdade”, “falar livremente”.
O tema da parrésia (parrhēsía, palavra original: παρρησία) aparece pela primeira vez nas Suplicantes (Eurípides, ca. 480 a.C. - 406 a.C.), sendo um tema presente em vários autores do mundo grego. 

Mais sobre a parrésia aqui: "O dizer verdadeiro: Casy ainda mora aqui?"






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