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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A agenda moral da corrupção

Cartier Bresson

De forma recorrente, continuo a ouvir o discurso anticorrupção…
Vejo a corrupção surgir na agenda moral das forças do Bem contra o Mal, Darth Vader contra Luke Skywalker. Como se o conflito político fosse uma cruzada de um exército de indignados contra os corruptos e os desonestos.

O problema do capitalismo seria, então, de resolução fácil. Bastava livramo-nos das pessoas más e gananciosas e premiar os justos e os especialistas talentosos, como na mais pura utopia (neo)liberal da meritocracia. E a punição acabaria por reequilibrar o sistema e prevenir relapsos. Como se estivéssemos num regime político essencialmente bom, no qual algumas pessoas, individualmente consideradas, teriam sido contaminadas pelas forças do Mal.

Mas, a corrupção não é um problema pessoal, nem é de natureza acidental. É a própria forma em que tem funcionado a política representativa, quando a democracia se torna meramente formal.
As causas não são externas e o poder não está noutro sítio. A corrupção é produzida e reproduzida dentro das próprias regras existentes, mediante uma relação de forças (de classes, de género, de raça) profundamente desigual.
A dívida, a pobreza, a acumulação de poder e de dinheiro, estão aí. A dívida, por exemplo, já se fazia anunciar nos Tratados de Maastricht e de Lisboa, aparece no seu esplendor no Tratado Orçamental e é viabilizada pelo Orçamento de Estado. Tudo legal. Tudo democrático.

O problema da corrupção não se resolve com os votos de uma democracia esvaziada pela axiomática do capital, muito menos com votos de pureza porque a sua causa não reside num problema individual e a luta não é a de uma purificação moral.





2 comentários:

  1. O contrário do relativismo é o bom-senso. Em certa medida. Estamo-nos a afastar do prático e do simples quando oor vezes a solução não é integral e é simplesmente de "mais" e de "menos" (e não de "soma" e de "subtracção").

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  2. Carlos Mendes, agradeço o seu comentário. Porém, não estou certa de o ter compreendido.

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