Falar para um candeeiro...

terça-feira, 11 de junho de 2013

2001, Odisseia no casamento

Stanley Kubrick

Saiu devagar, cumprimentando Angelina com uma breve inclinação de cabeça. Ela encolhera-se toda no seu lugar para parecer estar mais longe do homem que a acompanhava e olhava para Balli com os seus grandes olhos expressivos, pronta a sorrir-lhe se ele desse o exemplo. Mas ele não sorriu e, desviando a vista e não respondendo a um cumprimento do chapeleiro, passou adiante.
“Como fomos expressivos!”, pensou. “Ela pediu-me que não falasse a Emílio deste encontro e eu respondi-lhe que lho vou contar assim que o vir.”
Italo Svevo, Senilidade
                                                              
 
 
 
Para além de todas as questões de natureza sociológica sobre a forma como nos relacionamos socialmente, que são muitas, fica-se com uma dúvida. Então e a linguagem não-verbal? Afinal, qual a importância, tradicionalmente tão valorizada pela Psicologia, da linguagem cinésica, proxémica e paralinguística na comunicação?
Dito de outra forma: qual a importância, no ato da comunicação interpessoal, dos gestos e movimentos do corpo, da expressão facial, do olhar/contacto visual, da voz (volume, ritmo, entoação), dos silêncios (de vazio, embaraço, troca de emoções), da gestão do espaço/território, etc., etc.

Embora as "as pessoas tendam a conversar muito antes de efetivamente se conhecerem e de se abrirem-se mais por estarem protegidas atrás de um ecrã", está naturalmente ausente deste meio de comunicação "atrás de um ecrã" toda uma dimensão indicial que revela importantes elementos de quem comunica, relacionados com a sua identidade, sentimentos e emoções, atitudes, valores, posição social, etc.

Onde fica Freud, quando nos disse isto:
Aquele que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir convence-se de que os mortais não podem esconder segredo algum. Aquele cujos lábios se calam, tagarela com a ponta dos dedos, trai-se por todos os poros. É por isso que a tarefa de tornar conscientes as partes mais escondidas da alma é perfeitamente realizável.
Freud, Fragments d’analyse d’une hystérie
 
 

1 comentário:

  1. htpp:/candeeirodovasco.blogspot.pt/13 de junho de 2013 às 11:34

    Pertinente. Um bom assunto para desenvolver entre amigos, companheiros e alunos. Bj

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