Izis Bidermanas
Pierre Clastres, no capítulo VI - “De que se riem os índios?” - do seu o livro A sociedade contra o Estado, observou que a vida quotidiana dos “primitivos” apesar da sua dureza, proporciona verdadeiros momentos de humor e de um sentido agudo do ridículo, que os faz brincarem com os seus próprios temores.
Pierre Clastres, no capítulo VI - “De que se riem os índios?” - do seu o livro A sociedade contra o Estado, observou que a vida quotidiana dos “primitivos” apesar da sua dureza, proporciona verdadeiros momentos de humor e de um sentido agudo do ridículo, que os faz brincarem com os seus próprios temores.
Sendo
o xamã e o jaguar seres poderosas e perigosos, que inspiram o medo, o respeito
e mesmo o ódio, os índios Chulupi despertam, através da narrativa mítica a
vontade de rir dos seus próprios temores. Como não podem rir abertamente do
poder (representado pelo xamã e pelo jaguar), recorrem ao simbolismo do mito.
Estes
mitos representam uma ridicularização dos mais fortes, conduzindo os índios a
grandes manifestações de riso, a um “assassinato" simbólico dos poderosos. O
riso é um instrumento que, de certa forma, controla o poder, questionando e
desmistificando o medo imposto pelos jaguares e pelos xamãs. O escárnio e ohumor
que provocam esse riso, desempenham funções políticas
relevantes da vida social dos grupos.
“A contradição entre o imaginário e o
real da vida quotidiana resolve-se quando se reconhece nos mitos uma intenção
de escárnio: os Chulupi fazem ao nível
do mito o que lhes é interdito ao nível do real. Ninguém se ri dos xamanes
reais ou dos jaguares reais porque eles não são de todo para rir. Trata-se pois
para os índios de pôr em questão, de desmistificar aos seus próprios olhos o
temor e o respeito que lhes inspiram os jaguares e os xamanes. Esta questionação
pode operar-se de duas maneiras: ou realmente, e mata-se então o xamane julgado
demasiado perigoso ou o jaguar encontrado na floresta; ou simbolicamente, através do riso, e o mito (a partir
desse momento instrumento de desmistificação) inventa uma tal variedade de
xamanes e de jaguares que é possível rir-se deles, uma vez despojados dos seus
atributos reais para se verem transformados em idiotas da aldeia.” (Clastres, Pierre, A sociedade
contra o Estado, Edições Afrontamento, Porto, 1979, p. 143)
Neste vídeo, Álvaro Santos Pereira ri-se abertamente. Não se ri propriamente de um adversário, mas dada a atual relação de forças entre a economia e as finanças (com clara desvantagem para a economia, como todos sabemos), ri-se certamente do poder. Ri-se do xamane(*) das finanças, como os Chulupi.
(*) Xamane ou xamã: Sacerdote e
feiticeiro nas civilizações da Ásia central e setentrional; Curandeiro, em certas culturas africanas e ameríndias.
Alvaro Santos Pereira ri-se com gozo
ao Ministro das Finanças
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