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segunda-feira, 3 de junho de 2013

De que matéria são feitos os heróis? (Tiananmen)


 Praça de Tiananmen
Thank man: um herói é isto
 

Foi há 24 anos...

Num cenário que facilmente imaginamos imponente, entre a Cidade Proibida e o Grande Palácio do Povo, situa-se a Praça de Tiananmen na cidade de Pequim. Foi nesta praça que em 1 de outubro de 1949 Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China. Desde Abril de 1989 que esta praça tem vindo a ser o local escolhido pelos estudantes para se manifestarem em favor da abertura democrática do regime.

A morte de um alto funcionário do Partido Comunista Chinês parece ter sido a faísca, improvável, para o desencadear de manifestações anti regime. No entanto tudo indica que foi a morte de Hu Yaobong a 15 de Abril de 1989 que desencadeia os protestes dos estudantes chineses.

Hu Yaobong era tido como um reformista do regime chinês, forçado a abandonar os seus cargos em janeiro de 1987 sendo acusado de ser demasiado brando face aos protestos estudantis de 1986. Acabou na praça pública a auto redimir-se num processo de auto critica, tão ao gosto do regime maoísta.

Vitima de um ataque cardíaco em Abril de 1989 o partido recusa-lhe o funeral de estado. Os estudantes de Pequim reagem ocupado a praça de Tiananmen e pedindo a reabilitação de Hu Yaobong. O governo recua e decide conceder a Hu o funeral de estado, no entanto recusa receber os estudantes que continuam a ocupar a praça e exigem já a abertura do regime.

Zhao Zyang então Secretário-Geral do PCC (que havia sucedido a Hu Yaobong) menospreza o alcance da manifestação e deixa Pequim para visitar a Coreia do Norte. Dado que o governo tem vindo a ceder às suas exigências, os estudantes consideram que o governo não irá reprimir violentamente os manifestantes e continuam o protesto exigindo a definitiva abertura do regime. Uns e outros avaliaram mal as possíveis consequências: não só o número de manifestantes não para de aumentar como os protestos se espalham a outras cidades. Os setores mais conservadores do partido começam a temer pela sua sobrevivência.

Para Deng Xiaoping, outrora vítima da Revolução Cultural, Yang Shangkun e Li Peng a situação tinha ido longe de mais. Regressado a Pequim, Zhao é rapidamente ‘convocado’ para uma reunião do Bureau político do partido onde é decretado o estado de sítio. Para Zhao era o fim da sua carreira politica e para os manifestantes o fim dos seus desejos democráticos e, em alguns casos, o fim da sua liberdade e da sua vida.

A 19 de Maio Zhao é visto pela última vez em público na praça de Tiananmen, tentado convencer os manifestantes a abandonar a praça e as suas exigências. No mesmo dia é colocado em prisão domiciliária. Afinal, um destino bem melhor do que aquele que esperava a milhares de manifestantes.

Na manhã de 3 de Junho de 1989 as divisões 27 e 28 do Exército Popular de Libertação, oriundas de províncias distantes de Pequim dado que os dirigentes não confiaram na lealdade da forças militares de Pequim, entram na praça disparando gás lacrimogénio e com ordens para não disparar sobre os manifestantes. Estes enfrentam agora um dilema: permanecer e travar uma luta que inevitavelmente seria perdida ou retirar e esperar por melhores dias? Segundo os observadores internacionais, a maioria dos estudantes que iniciaram o protesto decide retirar-se mas outra parte resolve permanecer no local.
 
A entrada do exército em Pequim leva alguns cidadãos a juntarem-se aos estudantes que decidiram permanecer na praça para repelirem o exército. A meio da noite de 3 de junho e durante a madrugada de dia 4 o exército volta a cercar a praça e desta vez não seria só com gás lacrimogénio. Às seis da manhã de 4 de junho a praça estava finalmente vazia. Ou quase…

Um rapaz com uma camisa branca e calças pretas, com sacos de compras nas mãos permanece imóvel em frente a uma coluna de tanques. Após alguns momentos dois homens correm a empurrá-lo para longe.

Quem era? O que lhe aconteceu?

Provavelmente nunca o saberemos. Assim com também nunca saberemos quantas pessoas morreram no massacre da Praça de Tiananmen. O número oficial é de 241 mortos, a Cruz vermelha chegou a avançar com 260. Algumas testemunhas afirmam ter visto o exército a retirar corpos das ruas circundantes à praça, os quais obviamente não foram contabilizados no número de mortos e feridos.

E quantos aos sobreviventes? Alguns estudantes, oriundos de famílias influentes na burocracia chinesa receberam penas de prisão relativamente leves. Para os outros, professores, trabalhadores e cidadãos anónimos, a pena foi a execução.
 
A ver. Muito interessante.



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