Falar para um candeeiro...

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O mundo, essa grande sapataria

Lewis Hine
 
E se, de repente, esta menina passar por uma sapataria na Rua Augusta?


A física ensina-nos que se nos atirarmos contra uma parede, a parede exerce sobre o nosso corpo a mesma força em sentido oposto. Vimos para trás, empurrados por uma parede, uma simples parede, a realidade física mais inerte e rígida que podemos conceber.
Dizemos que é para uma parede que falamos quando ninguém nos ouve porque uma parede não tem olhos nem ouvidos, não tem vontade nem razão.  
 

Num inquérito referido no Expresso, a perceção dos inquiridos sobre a principal causa da sua pobreza é esta: “porque a família sempre foi pobre” (o desemprego é a segunda razão e os baixos rendimentos, a terceira). A primeira causa da pobreza é a pobreza, a parede que devolve a mesma realidade.  


 
O senhor governador diz-nos que o mundo é o que é, uma grande parede (ou uma sapataria, o que neste caso vai dar ao mesmo) que logo devolve o que assim recebe. E tem toda a razão, foi isto que a física lhe ensinou, que uma parede apenas "age" deterministicamente sobre qualquer corpo que lhe é lançado.

O que lhe poderá ensinar a ética, essa grande ciência oculta, sobre o mundo, essa grande sapataria?

 

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