Falar para um candeeiro...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O lado negro da força

Bruce Davidson, Todos temos um preço?
 




Times Square, Nova Iorque
Nave de Star Wars feita de 5,3 milhões de legos


tempo Obama confundiu Star Wars com Star Trek e provocou a ira na Internet porque a verdade é que admiramos estes filmes. No caso de Star Wars, em particular, gostamos por muitas razões, porque olhamos para a obra como uma brilhante forma de reinterpretação futurista dos arquétipos clássicos do bem e do mal ou porque nos identificamos ideologicamente com a aliança rebelde (é impossível não pensar na relação da primeira trilogia com o momento político em que foi concebida nos anos 70, onde o Império podia ser interpretado como a União Soviética e a República como os Estados Unidos). 
 
Mas antes de tudo isto ser possível um jovem George Lucas tinha uma ideia para um filme de ficção científica. A história não se passava no futuro e também não era na Terra ou em qualquer outro lugar do universo como o conhecemos, mas sim há muito tempo atrás numa galáxia muito distante. Não deve ter sido fácil explicar a ideia. O génio de Ralph McQuarrie, designer/ilustrador, deu a ajuda fundamental ao conceptualizar visualmente a história, elevando-a ao nível do que podemos chamar uma epopeia visual. Uma parte importante do nosso fascínio por Star Wars deve-se a ele, o pai visual de muitas elementos e personagens da obra.

 
Mas Lucas também precisou de alguém que financiasse o seu projeto, de um capitalista, vamos dizer assim. Essa é a verdade. E no caso de Star Wars há mesmo muito dinheiro em jogo. Só em receitas de bilheteira, a saga gerou mais de 4,5 mil milhões de dólares.
Star Wars é um dos maiores fenómenos de marketing do cinema, com a venda de produtos licenciados com a marca do filme, um autêntico veiculo promocional para a venda até de uma parafernália de produtos, até refrigerantes.
A verdade é que os cineastas precisam de dinheiro para apoiar financeiramente os seus projetos, que muitas vezes funciona como uma “mão bem visível”, pois se o público quer um final feliz, então, independentemente da integridade artística, teremos um final feliz. Isto ilustra a ideia bem marxista de que, sob o capitalismo, os trabalhadores são meras engrenagens numa máquina, separados do fruto do seu trabalho. Com isto, associado a uma cultura que vê a procura do lucro como imoral ou, na melhor das hipóteses, amoral, é natural ver surgir um ressentimento em relação ao capitalismo. Não foi preciso o filme de Michael Moore, Capitalismo: uma história de amor, para sabermos que em Hollywood ninguém morre de amores pelo capitalismo. Aliás, a personagem mais grotesca de Star Wars é precisamente Jabba the Hutt, literalmente um gigante verme capitalista.

 
Portanto, se você não passou os últimos tempos em Dagobah, o planeta de pântanos e neblinas do mestre Yoda, já deve saber que a Disney comprou a Lucas Film e os direitos de Star Wars e que se prepara para produzir diversos filmes e produtos com uma das marcas mais fortes da indústria cinematográfica.
À trilogia original, que com todas as suas virtudes e (quase nenhuns) defeitos, está na memória de milhões de pessoas em todo o mundo, vem juntar-se um filme por ano a partir de 2015! Ninguém pretende que os filmes originais permaneçam “congelados em carbonite” para todo o sempre, como um símbolo quase religioso, mas é preciso este nível de banalização? O fantástico mundo que George Lucas criou, e que ajudou a destroçar, tem que ser vulgarizado a este nível para que o “rato, capitalista, Mickey” consiga extrair lucros cada vez mais astronómicos?
O império precisava mesmo de comprar os rebeldes?
E o rebelde tinha mesmo que vender?
Tenho saudades do tempo em que Star Wars era apenas um filme que eu adorava.

1 comentário:

  1. Realmente foi uma má noticia para os fans do Star Wars, só vi um filme mas gostei muito, é tudo pelos lucros hoje em dia, mas é assim mesmo que essa indústria funciona, e a Disney já deixou de ser o que era há muito tempo...

    Ass: Rafael

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