Prescindir de um iate em tempos de crise, parece-me algo quase tão solidário como o
momento “croissant” de Maria
Antonieta.
Em homenagem à capacidade do rei de proferir tão curta e eficaz comunicação política, deixo aqui a história do merceeiro apaixonado.
Há tempos o mesmo
o rei de Espanha fazia uma viagem a África, para realizar uma caçada aos
elefantes no Botswana, a meio da enorme
crise que o seu país atravessa.
Não esquecer
que o primeiro-ministro de Portugal também assistiu a um concerto no dia em que anunciou medidas de
austeridades para o seu país.
Não
sei até que ponto o velho argumento monárquico da solidez inigualável da
educação real se consegue manter com a despropositada caçada, mas o que
interessa aqui referir não é isso, mas a atitude de alguns governantes ou representantes
de um país.
Se bem que ninguém consiga proferir todos os
dias um discurso de
Gettysburg “para o povo, pelo povo…” espera-se que, por inerência
das suas funções, estas pessoas sejam capazes de um pouco mais do que uma
inconcebível falta de solidariedade ou que a mesma se manifeste na estoica renuncia a um iate.
De resto, a solidariedade não é apenas a expressão de uma
virtude política. Qualquer um de nós manifesta a sua solidariedade quando faz
uma coisa podendo não a fazer, como quando simplesmente decidimos acompanhar
alguém a pé ou à chuva. A solidariedade é essa
presença.
Mas
a educação real lá deve ter os seus méritos e o rei pediu desculpas: «Peço desculpa. Cometi um erro. Não voltará a acontecer.» E mais não
disse. Com estas três frases
apenas reagiu às inúmeras críticas a que
foi sujeito, quando ainda se encontrava no hospital, onde foi submetido a uma
intervenção cirúrgica na sequência da sua criticada, e acidentada, viagem a
África. O primeiro-ministro de Portugal não pediu desculpas.
O discurso de Gettysburg de Lincoln também tem apenas 269 palavras, que foram ditas em menos de dois minutos, mas ficará para sempre como exemplo de grandeza.
O discurso de Gettysburg de Lincoln também tem apenas 269 palavras, que foram ditas em menos de dois minutos, mas ficará para sempre como exemplo de grandeza.
Em homenagem à capacidade do rei de proferir tão curta e eficaz comunicação política, deixo aqui a história do merceeiro apaixonado.
Um merceeiro amava ardentemente uma
mulher e enviava-lhe mensagens por intermédio de uma criada. Disse à criada:
«Estou assim e assado, de cabeça perdida, o meu coração foi roubado por uma lua
sem igual, ardo, o sono abandonou as minhas noites, já não como, sofro mil
dores cruéis, ontem à noite estive em tal estado, a noite anterior em tal
outro»... E assim por diante.
A criada ouviu-o, depois foi ter com a
patroa e disse-lhe:
- O merceeiro manda-te cumprimentos.
Quer dormir contigo.
- Ele disse isso assim friamente?
perguntou a mulher.
- Não, contou muitas histórias. Mas o
essencial é isso.
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