Falar para um candeeiro...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A insuportável leveza do ser

Prescindir de um iate em tempos de crise, parece-me algo quase tão solidário como o momento “croissant” de Maria Antonieta.



Há tempos o mesmo o rei de Espanha fazia uma viagem a África, para realizar uma caçada aos elefantes no Botswana, a meio da enorme crise que o seu país atravessa.

Não esquecer que o primeiro-ministro de Portugal também  assistiu a um concerto no dia em que anunciou medidas de austeridades para o seu país.

Não sei até que ponto o velho argumento monárquico da solidez inigualável da educação real se consegue manter com a despropositada caçada, mas o que interessa aqui referir não é isso, mas a atitude de alguns governantes ou representantes de um país.
 
Se bem que ninguém consiga proferir todos os dias um discurso de Gettysburg “para o povo, pelo povo…” espera-se que, por inerência das suas funções, estas pessoas sejam capazes de um pouco mais do que uma inconcebível falta de solidariedade ou que a mesma se manifeste na estoica renuncia a um iate.

De resto, a solidariedade não é apenas a expressão de uma virtude política. Qualquer um de nós manifesta a sua solidariedade quando faz uma coisa podendo não a fazer, como quando simplesmente decidimos acompanhar alguém a pé ou à chuva. A solidariedade é essa presença.
 
Mas a educação real lá deve ter os seus méritos e o rei pediu desculpas: «Peço desculpa. Cometi um erro. Não voltará a acontecer.»  E mais não disse. Com estas três frases apenas reagiu às inúmeras críticas a que foi sujeito, quando ainda se encontrava no hospital, onde foi submetido a uma intervenção cirúrgica na sequência da sua criticada, e acidentada, viagem a África. O primeiro-ministro de Portugal não pediu desculpas.
O discurso de Gettysburg de Lincoln também tem apenas 269 palavras, que foram ditas em menos de dois minutos, mas ficará para sempre como exemplo de grandeza.  

Em homenagem à capacidade do rei de proferir tão curta e eficaz comunicação política, deixo aqui a história do merceeiro apaixonado.

 
Um merceeiro amava ardentemente uma mulher e enviava-lhe mensagens por intermédio de uma criada. Disse à criada: «Estou assim e assado, de cabeça perdida, o meu coração foi roubado por uma lua sem igual, ardo, o sono abandonou as minhas noites, já não como, sofro mil dores cruéis, ontem à noite estive em tal estado, a noite anterior em tal outro»... E assim por diante.
A criada ouviu-o, depois foi ter com a patroa e disse-lhe:
- O merceeiro manda-te cumprimentos. Quer dormir contigo.
- Ele disse isso assim friamente? perguntou a mulher.
- Não, contou muitas histórias. Mas o essencial é isso.

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