Em Greenwich Villace, o fotógrafo profissional L.B. Jeffries (Jeff), de perna partida,
está confinado no seu apartamento.
Já
foi dito que o voyeurismo da Jeff é
uma analogia com o espectador de cinema. De facto, num certo sentido todos os filmes implicam o voyeurismo do espectador. Mas a condição
de espectador é a essência da sua relação com aquelas personagens, logo não tem
para com elas deveres morais.
Não
sei se Hitchcock está a sugerir que Jeff faz algo de errado. No entanto, também
Jeff não é por natureza um voyeur,
como os vizinhos não são
exibicionistas. O voyeurismo de Jeff
é acidental, vários fatores o determinam: está imobilizado com uma perna
partida e, devido a uma sufocante vaga de calor, as janelas dos vizinhos estão abertas.
Parado,
observa. Jeff não participa na ação, pelo menos diretamente, embora quando Lisa
introduz o recado por debaixo da porta de Thorwald ou quando o próprio Jeff
recorre a telefonemas enganadores para atrair o vizinho para fora do seu
apartamento, torna-se participante ativo, na medida em que acaba por afetar a situação.
Mas,
digamos que a sua condição é essencialmente a de espectador, de alguém que
olha, que assiste a alguns acontecimentos que o fazem suspeitar que um vizinho
matou a mulher e escondeu o corpo. As suspeitas confirmam-se.
Aquela
descoberta só é possível porque o olhar de Jeff é lento e silencioso, tem todo
o tempo para olhar as "janelas" à sua volta e, além disso, não pode intervir na ação. É um olhar
demorado e de fora. É precisamente este o olhar que descobre e compreende.
Dificilmente
esta história poderia acontecer hoje: pelo ruído e inquietação constantes e porque
um Jeff contemporâneo de perna partida estaria a ver televisão.
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