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quarta-feira, 22 de maio de 2013

A singularidade da manifestação


"O riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. E em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião
 Eça de Queiróz


 
Panelas, buzinas e gargalhadas no dia do Conselho de Estado
Concentração em frente ao Palácio de Belém contou com menos gente do que no ano passado mas trouxe uma nova forma de luta: o riso. (Ler mais)


 
Tanto a cantiga como o riso são uma arma. Pessoalmente, prefiro a novidade do riso, a inspiração mais universal do humor como forma superior de provocação e inteligência (embora riso e humor não sejam bem a mesma coisa) à consumida “Grândola”, muito agarrada aos idos dos “fascismos”, dos “comunismos” e de outros “ismos”.

De acordo com uma importante teoria que também explica a criatividade (a teoria da bissociação de Koestler - The act of creation, 1964), “o padrão essencial das histórias de humor é o da perceção de uma situação S a partir de dois enquadramentos de referência, normalmente incompatíveis, R1 e R2. A situação S, no qual há a interseção entre os dois enquadramentos, é feito para vibrar simultaneamente em duas propagações diferentes. Durante esta situação atípica, S não está meramente ligado a um contexto associativo, mas sim bissociado a dois.
Por exemplo:
 Um fazendeiro muito abastado veio a França visitar um primo afastado, também ele lavrador, mas muito mais modesto.
- Eu – diz o americano -, se pegar no carro de manhã, à noite ainda não saí do meu rancho.
- Estou a ver – respondeu o primo -, dantes também tinha um carro assim.


Neste pequeno conto, é a situação “se pegar no carro de manhã, à noite ainda não saí do meu rancho” que interseta dois enquadramentos incompatíveis: a qualidade do “carro” e a qualidade do “rancho”. A introdução da ideia de que se fala do “carro”, ao invés do “rancho”, magnificamente rematada pela palavra “dantes”, “vibra simultaneamente em duas propagações”.


Cathcart e Klein, no livro Platão e um ornitorrinco entram num bar... consideram que também existe uma analogia estrutural entre o humor e o pensamento filosófico. A construção e reação às piadas e a construção e a reação aos conceitos filosóficos são feitas do mesmo material. Estimulam a mente de formas semelhantes. Isto acontece porque a filosofia e o humor têm origem no mesmo impulso: “confundir a nossa perceção das coisas, virar os nossos mundos de pernas para o ar e deslindar as verdades escondidas, e muitas vezes desagradáveis, sobre a vida. Aquilo que um filósofo considera uma revelação, o cómico considera uma paródia.”


Por isso é que o humor será sempre a grande manifestação da inteligência humana, senão mesmo uma forma de “salvação”, como diz Eça. Estamos no bom caminho, da próxima vez vamos todos rir-nos, como a mais interessante e universal manifestação da nossa humanidade.

3 comentários:

  1. - Olhe, por favor, queria um livro!
    - Sim senhora e qual o titulo do livro?
    - "Coma bem e emagreça"
    - Hummm... é ficção?

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  2. Rir faz bem à alma e é uma excelente "arma" de nos manifestarmos, logo, em tempos de crise rir é o melhor remédio.

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  3. Aproveito para enviar por aqui uma sentida gargalhada ao nosso querido Gaspar e outra ao Passos Coelho :D

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