Mark Seawell
O maior e mais complexo trabalho de
colaboração até hoje entre jornalistas de todo o mundo, coordenado a partir de
Washington é o International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), um
autêntico Offshore Leaks
que está a revelar, desde o início de abril, as ligações entre os
mundos da política institucional, das finanças e da economia offshore, a
grande rede dos chamados “paraísos" fiscais.
O Offshore Leaks envolve um enorme volume
de informações (entregues de forma anónima), num total de 2,5 milhões de
documentos secretos oriundos das Ilhas Virgens Britânicas, das Ilhas Cook e de
outros paraísos fiscais utilizados nas últimas décadas para esconder dinheiro e
património. Os dados incluem fichas, contratos e trocas de emails entre
donos e gestores relacionados com 120 mil offshores e 170 países.
A investigação do ICIJ sobre pessoas com
companhias criadas em paraísos fiscais, a decorrer em 47 países, conta com
quase 90 jornalistas envolvidos e com 37 publicações até ao momento.
É possível acompanhar
esta investigação no próprio site do ICIJ, mas também no Guardian, e no Le Monde, bem como no Expresso que se associou a esta
iniciativa. O Offshore
Leaks conta ainda com a participação de outros dos principais media
do mundo, incluindo o The Washington Post, a BBC, o Novaya Gazeta (Rússia) ou a Folha de S. Paulo, no Brasil.
O sol nunca se deita no império britânico das offshores
1.
“Muito
mais que bucólicos “paraísos fiscais”” (aqui)
Entrevista a Nicholas Shaxson, autor do livro Treasure Islands: Uncovering the Damage
of Offshore Banking and Tax Havens (infelizmente sem tradução em português), um
livro produzido a partir de uma investigação profunda no mundo paralelo das finanças
ocultas e indispensável para entender finanças offshore, e onde ao autor afirma:
o sistema bancário das sombras ocupa o centro do capitalismo global. Na sua obra
lança uma nova luz sobre o papel da City de Londres e da rede
formada pelas ex-colónias do Império Britânico no universo offshore. Nicholas
Shaxson escreve regularmente no Financial Times e no The Economist. Esta
entrevista foi feita por Christophe Ventura e publicada originalmente em
“Memoire des luttes”.
A versão que aqui se apresenta foi
retirada do site Outras Palavras, com tradução de Inês Castilho.
2.
“A Inglaterra
tem um novo império: o das offshores e paraísos fiscais” (aqui)
Artigo do
Público sobre uma investigação da Vanity Fair ao novo império da Inglaterra:
as offshores e paraísos fiscais;
Neste último artigo pode ler-se: "É uma surpresa para a maioria das pessoas que o mais importante player do sistema global de offshores (livre de impostos e taxas) não seja a Suíça, nem as Ilhas Caimão, mas sim a Grã-Bretanha, situada no centro de uma rede de paraísos fiscais britânicos interligados entre si, a lembrar os últimos resquícios do império.” (In Vanity Fair, publicado na última edição de Abril, com o sugestivo título: A Tale of two Londons, um trocadilho à volta do conto (1859) de Charles Dickens, a Tale of Two Cities).”
3.
"Offshore Leals: as caixas negras do poder global" (aqui)
Artigo do site “Outras palavras”:
Neste último
artigo pode ler-se: “É possível
enfrentar o universo offshore? Do
ponto de vista técnico, não faltam alternativas, explica Nicholas Shaxon. Os
fluxos de recursos para os “paraísos fiscais” podem ser limitados tanto por
tributação mais elevada – que inibe as transferências – quanto por restrições
diretas dos Estados. O difícil, ressalta o autor de Threasury Islands, é
enfrentar a força política da oligarquia financeira. Entre os grupos
diretamente interessados em manter a situação atual estão banqueiros, grandes
empresas, bancadas políticas corruptas e crime organizado.
Os media exercem um papel central na
resistência às mudanças. Os jornalistas dos meios tradicionais normalmente
sabem muito pouco sobre finanças internacionais, observa Shaxon. Nas raras
vezes em que escrevem sobre o tema, recorrem aos “especialistas do mercado
financeiro” – precisamente os que mais têm interesse em que nada mude.
É
sintomático que nenhum jornal, TV, rádio ou portal de internet tenha dado
destaque ao Offshore Leaks.
Por último, a relevar a relação entre o aumento da dívida pública e a política (fuga) fiscal.
Sem comentários:
Enviar um comentário