Michael Napples, Two Dollar Bill
Em 2000, Gneezy e Rustichini, estudaram um grupo de creches em Haifa, Israel, ao longo de vinte semanas. As creches abriam às 7h30 e fechavam às 16h. Se os pais não comparecessem a horas para recolher as crianças, um professor seria obrigado a sair mais tarde.
Durante as primeiras quatro semanas da experiência, os investigadores tomaram nota do número de pais que chegavam tarde todas as semanas. Depois, antes da quinta semana, com
autorização das creches, afixaram o seguinte aviso:
Aviso
Multa para atrasos
A hora oficial de encerramento da creche é às 16 horas. A partir da próxima semana aplicaremos uma multa de 10 shekels* por cada hora de atraso aos pais que venham buscar os filhos depois da
hora. A multa de será paga
com a mensalidade do mês
seguinte.
O diretor da creche
* 10 shekels eram equivalentes a cerca de 3 dólares americanos.
A teoria por trás da multa, diziam Gneezy e
Rustichini, era clara: «Quando são impostas consequências negativas na sequência de certo comportamento, essas
consequências vão produzir uma
redução das ocorrências desse comportamento.»
Por outras palavras, se forem castigados com uma multa, os pais deixam de
chegar atrasados.
Acontece que não foi isso que sucedeu. Pelo contrário, depois
de a multa ter sido introduzida, observou-se um aumento dos atrasos dos pais, num nível quase duas vezes superior ao número inicial de atrasos.
Como
explicar este aumento de atrasos?
Uma das
razões por que a maior parte dos pais chegavam a horas era a sua relação
pessoal com os professores e o desejo de os tratar bem. Esse desejo levava-os a
ser escrupulosos com a pontualidade. No entanto, a ameaça de multa anulou essa motivação.
A multa transformou a motivação moral dos pais (tratar bem os professores dos
filhos), numa pura mercadoria (poder pagar pelo tempo extra). A punição
não incentivou o bom comportamento, mas tornou-o confuso.
Daniel Pink (2011), Drive, A surpreendente verdade sobre aquilo que nos
motiva
Até pelo
exposto no post anterior, sabemos que
existe uma crescente mercantilização: tudo tem o seu preço e isso normalmente é
considerado "bom" em nome da “eficiência” de mercado. Porém, como
vimos, mercantilizar não é um processo neutro. A mercantilização muda a própria natureza do
objeto. E não para melhor.
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