Ford, Linha de montagem do Modelo T
Ford
concebeu a primeira linha de montagem em 1913
e revolucionou os processos
de produção na sua primeira fábrica em Michigan, tornando-se um marco de referência para os métodos de produção
em série no mundo. Pagava
salários mais altos que os seus concorrentes: 5 dólares por dia (ao invés de 3).
Reduziu a jornada diária de 9 para 8 horas de trabalho e a semanal de 6 para 5 dias.
O modelo T mudou o mundo:
foi o primeiro carro de “massas”, simples, robusto, seguro e
principalmente barato.
Nascia a indústria e o consumo em
massa.
O conceito de
“fordismo”, muito para além da experiência empresarial de Henry Ford, por mais
pioneira que possa ter sido, sintetiza um todo um macrossistema ou o "modo de vida total do último auge
cíclico do capitalismo” (David Harvey (1989), The Condition of
Postmodernity:131).
Fordismo / welfare State: Estado social ou pacto reformista?
A
experiência da regulação fordista / welfare State (já no período pós Segunda Guerra) é normalmente
identificada como o apogeu dos direitos sociais em toda a história do
capitalismo. O estado de bem-estar social projetou-se como a possibilidade de
um “lugar ao sol” para todos, como um meio de satisfação das necessidades
humanas num arranjo social, político e económico que prescindiria do fim das
classes sociais.
No entanto,
a regulação fordista, a experiência
dos Estados de bem-estar social nunca se universalizou, ficando geograficamente
restrita a alguns países mais desenvolvidos na Europa ocidental e temporalmente
não durou mais que 30 anos, constituindo, portanto, uma exceção no tempo e no
espaço, resultante de uma conjuntura muito especial.
Nesses
países, os “trinta anos gloriosos” foram especialmente marcados por avanços
sociais que resultaram numa melhoria dos salários e das condições de vida e de
trabalho. Mas nunca houve uma completa abrangência da população a incluir na lista
pelos direitos sociais. A prosperidade da Europa ocidental não se instalou sem
manter a desigualdade social e sem o consequente afloramento dos movimentos
sociais de alguns segmentos dos excluídos, daqueles que não foram convidados a
participar do pacto fordista. Jovens,
mulheres e trabalhadores migrantes permaneceram como força de trabalho
precarizada no fordismo, entre outros
grupos sociais discriminados, como negros e homossexuais.
O modelo do welfare
State desponta num contexto em que o pacto fordista-keynesiano se impõe como a melhor saída para um sistema
que não poderia falhar. Terminada a Segunda Guerra Mundial, num contexto de
instabilidade próprio do pós-guerra, os trabalhadores não estavam dispostos a
deixar as trincheiras e simplesmente voltar para as fábricas, ainda por cima num
mundo em que a União Soviética saía fortalecida politicamente do confronto mundial.
O final da Segunda Guerra
Mundial mudou, de facto, a correlação de forças no planeta em resultado do
papel determinante na vitória da URSS, o Estado socialista. Se a mão invisível do mercado conduzisse a sociedade
a um “novo 1929”, o capitalismo poderia não mais conseguir deter a ofensiva
anticapitalista, viesse ela das forças das forças estalinistas ou de outras forças
comprometidas com o socialismo.
Para além do fator político, o modelo fordista-keynesiano também procurou
evitar o erro económico que em 1929 havia conduzido o capitalismo à Grande
Depressão. “Ford e Keynes haviam percebido que a aceleração dos ganhos de
produtividade provocada pela revolução taylorista
levaria a uma gigantesca crise de superprodução se não encontrasse
contrapartida numa revolução paralela do lado da procura. (...) Mas Ford e
Keynes pregavam no deserto. (...) Os temores de Ford, de Keynes e dos
sindicatos diante do conservantismo liberal de Hoover, Lloyd George ou Laval
encontraram por isso, na Grande Depressão dos anos 30, naquela gigantesca crise
de superprodução, uma trágica confirmação", como refere Alain Lipietz.
Portanto,
tornava-se agora claro que sem o aumento dos salários e dos “direitos sociais”
(salário indireto) para aumentar proporcionalmente o consumo, corria-se
seriamente o risco de emergir uma nova crise de superprodução.
Foi assim
que o capitalismo convocou os seus representantes no aparelho estatal e nas
direções da classe trabalhadora para uma “coexistência pacífica”, para negociar
um regime de acumulação capaz de levantar uma economia em ruínas e assegurar
que os movimentos operários não ultrapassariam o horizonte do reformismo. O
resultado foi a manutenção do capitalismo, embora numa plataforma pouco usual,
a começar pela notável expansão do salário indireto, responsável pelo consumo
de massa de bens duráveis, o verdadeiro motor do fordismo.
Para esta inédita
concertação política e económica entre os países capitalistas, também foram decisivas
outras condições objetivas como o controlo do fluxo de capitais, que permitiu
uma sujeição das finanças à produção. Só a partir dos anos 1970, com as
políticas de desregulamentação Thatcher/Reagan é que este quadro começaria a
inverter-se.
Existiu mesmo aquilo que hoje (nostalgicamente)
chamamos “Estado social” ou o que existiu foi um pacto destinado, por um lado, a impedir o
avanço perigoso da URSS e, por outro, a evitar uma nova crise de superprodução, elevando, para isso, os salários
(diretos e indiretos) e assim promovendo (massivamente) o aumento do consumo? (E daí ao endividamento, foi um passo muito pequeno).
A experiência
do pacto fordista-keynesiano, que ajustou
o capital a determinados compromissos, só foi possível mediante as condições
conjunturais caraterísticas do período histórico em que emergiu. Talvez a maior prova
das limitações (meramente reformistas) desse pacto seja a própria História. Assim que este
modelo deixou de corresponder positivamente à dinâmica da valorização e da
acumulação, eis que começa a desaparecer. Ou nunca terá existido...?
Referências bibliográficas
Harvey, David (1989). The condition of
postmodernity. An Enquiry into the Origins of Cultural Change. Oxford:
Blackwell.
Lipietz, Alain, Audácia: uma alternativa
para o século XXI, citado em Veiga, José, “O “fordismo” na aceção
regulacionista”, Departamento de Economia da FEA-USP, Revista de Economia
Política, vol.17, n.3 (67), julho-set. 1997, pp: 63-70)
Mais um post mui interessante e com informação que realmente interessa.
ResponderEliminarDeixo lhe um link de uma notícia que achei bastante interessante, relacionada com o programa "novas oportunidades".http://www.publico.pt/economia
Continuação de boas aulas.
Dei uma vista de olhos no Público/Economia, mas não vi...
ResponderEliminarQuanto ao post, esta é a pergunta: existiu, alguma vez, Estado social...?
Vamos falando :)