Falar para um candeeiro...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança

 Alfred Eisenstaedt, 1943


Há um ponto que se tornou central no capitalismo contemporâneo: a propriedade intelectual.

A propriedade intelectual é a transformação do conhecimento humano coletivo em mercadoria por meio da apropriação privada. Cada vez que um grupo farmacêutico, por exemplo, regista uma patente, apropria-se dos conhecimentos produzidos socialmente e, provavelmente na maioria dos casos, financiados com dinheiros públicos. Aquele produto que é patenteado é sempre o resultado de uma acumulação de saberes que ultrapassa em muito as pesquisas do grupo que a patenteia. Como sabiamente diz um provérbio africano “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. A missão de educar e ensinar não é da exclusiva competência dos agentes educativos, mas muitos outros elementos sociais participam nesse trabalho.
 
De cada vez que os grandes grupos registam uma patente, transformam esse saber social numa renda, logo num instrumento de dispõe de poder social, económico e político. A escola (pública) e todos as outros elementos que socialmente participaram desse longo processo do conhecimento desaparecem. Fica apenas a patente.
 
 
Vale a pena relembrar também o poema de Brecht:

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras? (…)
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? (…)
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos,
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?


 

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