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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A escola e a sua mercadoria

Fotografia de Alfredo Cunha


O vocacionalismo é o termo que designa a subordinação da educação às necessidades da economia e que está na origem do processo de profissionalização do sistema educativo.

Este “mandato” surge no início da década de 80 quando a maior parte dos países industrializados se vê confrontada com a desaceleração do crescimento económico e com elevadas taxas de desemprego juvenil. Agora, tal como nesse período, a Educação foi chamada a desempenhar um papel fundamental para aumentar a competitividade das economias e para combater o flagelo do desemprego.

 
O raciocínio é o seguinte: “mais educação profissionalizante = mais recursos humanos qualificados = mais competitividade = mais riqueza = redução do desemprego e dos seus efeitos”.


Sendo difícil demonstrar a existência de uma relação direta entre os elementos da igualdade acima referida (por ausência de suporte empírico que a sustente), parece mais claro que o vocacionalismo é a forma mais eficaz de assegurar o cumprimento de uma escolaridade de 12 anos. Mas ela é também, para muitos dos jovens que a frequentam, uma escolha forçada, uma via de exclusão dos percursos “nobres” (de prosseguimento de estudos para o ensino superior), uma espécie de gueto destinado aos protagonistas de trajetórias de insucesso.
 
A educação profissionalizante cumpre, no quadro do sistema educativo, várias funções: apresenta-se como uma oferta suficientemente atraente (mais prática) para um número elevado de jovens, permitindo-lhes fazer face à desvalorização dos diplomas; ao manter durante mais tempo um maior número de jovens na escola, a educação profissionalizante contribui para diminuir as taxas de desemprego juvenil; ao ter currículos que só formalmente permitem o prosseguimento de estudos, contribui para manter controlada a base social de recrutamento do ensino superior.

A escola é cada vez mais uma empresa e a sua mercadoria é a mão-de-obra educativa. Veja-se na Portaria n.º276/2013 de 23 de agosto a matriz curricular dos cursos vocacionais de nível secundário (a Portaria n.º 292 -A/2012, de 26 de setembro, já havia criado uma experiência-piloto de oferta formativa dos cursos vocacionais para o ensino básico).

Segundo o preâmbulo da Portaria n.º 276/2013, “a introdução destes cursos visa criar condições para o cumprimento da escolaridade obrigatória, a redução do abandono escolar precoce e o desenvolvimento de conhecimentos e capacidades, científicas, culturais e de natureza técnica, prática e profissional que permitam uma melhor integração no mercado de trabalho e o prosseguimento de estudos.”

 
Que “conhecimentos e capacidades científicas e culturais”?
Que “ prosseguimento de estudos”?
E, acrescente-se, que mobilidade social?

Como diz Natália Alves, “é necessário excluir para incluir”. O problema é que quando se exclui dificilmente se consegue incluir.
  

Artigo consultado: Natália Alves, “Políticas de educação-formação para jovens: tensões e contradições”




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