A minhã irmã e as flores da tia Isaulina (Fotografia de Aurélio Bravo)
Vi recentemente esta fotografia pela primeira vez e, de imediato, a situei no centro da minha infância, nas minhas brincadeiras com a minha irmã na casa dos meus tios em Nova Lisboa / Huambo, na Calumanda. Lembro-me perfeitamente que aquelas plantas e flores eram matéria-prima para as nossas brincadeiras.
Podemos achar estranho que crianças brinquem com flores, mas não é. Nas brincadeiras de crianças as coisas saem dos seus lugares funcionais, como numa espécie de “delírio”. Objetos, palavras, sons, lugares, ou mesmo as flores, são desmanchados, desfeitos e recompostos de outra forma, num jogo de (múltiplas) possibilidades.
Podemos achar estranho que crianças brinquem com flores, mas não é. Nas brincadeiras de crianças as coisas saem dos seus lugares funcionais, como numa espécie de “delírio”. Objetos, palavras, sons, lugares, ou mesmo as flores, são desmanchados, desfeitos e recompostos de outra forma, num jogo de (múltiplas) possibilidades.
Aquelas pobres plantas e
flores, sobretudo as “orelhas de elefante” (umas folhas verdes grandes cujo
formato fazia lembrar a orelha de um elefante) e os brincos de princesa
ganhavam para nós uma vida especial. Num movimento de apropriação (no
verdadeiro sentido da palavra já que as arrancávamos do seu lugar natural),
eram “re-significadas” por nós, num processo que lhes atribuía novos papéis e
novos sentidos para as nossas brincadeiras. Por uma especial consideração, apenas as dálias,
flores de estimação da minha tia Isaulina, eram, regra geral, poupadas à nossa "transformação" dos objetos.
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