Largo D. Estefânia (Lisboa, 26 de abril) e Tela das
Arpilleras da
Resistência Política Chilena
A enunciação pública está aberta a todas as
formas de “micro-resistências”,
todo o indivíduo é potencialmente um sujeito político. Quaisquer pessoas que
transmitam em público – de formas muito distintas e com graus de
institucionalização muito variáveis – as suas reações aos danos que sofrem
diretamente ou que percebem haver no conjunto da sociedade a que pertencem, são
sujeitos políticos, são sujeitos que
procuram intervir na “partilha” do mundo sensível em que vivem as suas
experiências quotidianas.
A competência
política não é conferida por meio de títulos, cargos, mandatos ou outras
distinções de estatuto. A política está sempre aberta à enunciação pública do
“povo”, que seja capaz de instaurar o dissenso, de nomear, à sua forma, o dano.
A “exposição do dano”, como ato político, pode assumir diferentes formas
de micro-resistências
no quotidiano, como a das Arpilleras da Resistência Política Chilena, as mulheres que
“bordavam telas com as roupas dos seus parentes desaparecidos no
regime ditatorial”(aqui) ou como o crescente recurso ao crochet e tricot , que tenho visto em lugares públicos.
Talvez seja curioso
que o ato de bordar, tricotar ou
fazer crochet, provavelmente o exemplo mais acabado das formas de domesticação feminina, possa ser um ato
transgressor, uma certa forma na qual o invisível
passa a ser visto e o ruído indistinto torna-se discurso convocatório.
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