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terça-feira, 28 de abril de 2015

"Lavores femininos"



Largo D. Estefânia (Lisboa, 26 de abril) e Tela das Arpilleras da Resistência Política Chilena



A enunciação pública está aberta a todas as formas de “micro-resistências”, todo o indivíduo é potencialmente um sujeito político. Quaisquer pessoas que transmitam em público – de formas muito distintas e com graus de institucionalização muito variáveis – as suas reações aos danos que sofrem diretamente ou que percebem haver no conjunto da sociedade a que pertencem, são sujeitos políticos, são sujeitos que procuram intervir na “partilha” do mundo sensível em que vivem as suas experiências quotidianas.

A competência política não é conferida por meio de títulos, cargos, mandatos ou outras distinções de estatuto. A política está sempre aberta à enunciação pública do “povo”, que seja capaz de instaurar o dissenso, de nomear, à sua forma, o dano.

A “exposição do dano”, como ato político, pode assumir diferentes formas de micro-resistências no quotidiano, como a das Arpilleras da Resistência Política Chilena, as mulheres que “bordavam telas com as roupas dos seus parentes desaparecidos no regime ditatorial”(aqui) ou como o crescente recurso ao crochet e tricot , que tenho visto em lugares públicos.

Talvez seja curioso que o ato de bordar, tricotar ou fazer crochet, provavelmente o exemplo mais acabado das formas de  domesticação feminina, possa ser um ato transgressor,  uma certa forma na qual o invisível passa a ser visto e o ruído indistinto torna-se discurso convocatório.







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