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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Epicuro e o desejo segundo a economia

 
"Estava eu numa aula de Economia e a professora ia-nos ajudando a fazer exercícios de preparação para o exame que aí vem. Estávamos a resolver um exame, em conjunto, de um qualquer ano que já passou e, enquanto eu pensava no que seria o meu almoço, algo me chamou a atenção. Um dos exercícios da prova estava relacionado com as despesas dos consumidores, estando estas divididas entre os vários tipos de bens de consumo. E não é que as despesas ligadas à cultura estavam indicadas como “supérfluas”?" 
Mariana, 11º ano

 
Na “Carta a Meneceu”, Epicuro, um filósofo grego, que começa por dizer que “nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma”, apresenta uma classificação dos desejos ordenados em três tipos diferentes: os que são naturais e necessários para a felicidade, os que são naturais mas não são necessários e, finalmente, os que nem são naturais nem necessários.

 
Talvez os primeiro sejam os mais fáceis de exemplificar, como o desejo de comer e de beber, por exemplo. Os terceiros também não oferecem muitas dúvidas, tais como desejar pintar as unhas de azul ou comprar um casaco de peles de animais. Os segundos talvez sejam os mais complexos e difíceis de definir, pelo menos até recorrermos a um enunciado do serviço nacional de exame para efetuarmos uma escolha sobre o que devemos desejar para sermos felizes.
 
A economia considera a cultura supérflua. O senso comum, também. Não há aqui propriamente uma novidade, mas apenas a reafirmação de uma racionalidade esclarecida que dispensa aquilo que não é apolineamente “necessário”.
 
A arte, o imaginário, o mito seriam modos de expressão “supérfluos”, formas enganadoras para além de uma razão convencional que produz declarações positivas e abstratas acerca das coisas. Como se a ordem não fosse apenas concebível com a desordem, a luz com a escuridão, o som com o silêncio, o prazer com a dor… ou simplesmente como se a desordem, a escuridão, o silêncio, a dor não existissem, logo tudo o que lhes desse expressão seria supérfluo.
 
Muitos séculos depois de Epicuro, numa gravura - lindíssima - de Goya pode ler-se que “o sono da razão produz monstros”. Mas uma razão sempre desperta e vigilante, demasiado consciente de si mesma, produzirá também os seus próprios monstros.
 
Afinal, que devemos desejar para sermos felizes? Experimente a pegar numa caneta e numa folha de papel...
 
Talvez seja não seja tão difícil como parece.





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