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domingo, 3 de maio de 2015

Álbum de fotografias




Fotografia retirada daqui

Nesta tarde chuvosa de domingo acabo de digitalizar fotografias de um velho álbum que há muitos anos guarda pedaços de imagens a preto e branco.
 
Em estado de memória, revejo o álbum. As fotografias vão surgindo ao meu olhar. Passo por algumas de forma breve, por outras detenho-me demoradamente a observar todos os detalhes. De algumas não me lembro quase nada, outras parece que foram tiradas ontem, como se contassem uma história de que ainda me recordo.
Em todas elas o tempo e o espaço ficaram eternamente imobilizados, fizeram um “corte na matéria bruta da vida”, como disse o fotógrafo Cartier Bresson.

Ao olhar para as fotografias, fico ali a imaginar, por vezes mais do que a lembrar-me, como seria o mundo quando aquelas imagens eram matéria viva, antes do tempo se ter retirado. Aqueles pedaços de imagens são um jogo de forças entre memória e esquecimento, uma tensão dinâmica entre o que se vê e o que se sabe ter existido e aquilo que semi-existe, que permanece de forma fragmentária ou simbólica.

Mas o velho álbum  é um contador de histórias. Testemunha momentos e acontecimentos que mantêm também presente a lembrança da família, daqueles que fizeram parte da história. Lá estão os casamentos, aniversários, batizados, férias na praia, almoços, festas ou o carro novo. “Eu estive ali”, “esta aqui sou eu”, “esta era a minha casa”… 

O álbum é um verdadeiro arquivo de memórias e vestígios que contam histórias de família, que com o passar de gerações e o amarelecer das suas folhas adquirem um estatuto de objeto afetivo, um valor de relíquia, como certos objetos que ficaram da infância, sabendo que uma parte dessas lembranças é uma memória mitificada. Definimos e selecionamos aquilo que queremos conservar nas imagens fotográficas e, por vezes, na própria memória das coisas.

O que têm a ver todas aquelas imagens antigas com a vida de hoje? Nada e tudo.

Olho para elas como o cronista de Walter Benjamin “que não distingue entre os grandes e os pequenos acontecimentos e que leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”. 







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