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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tinta vermelha

Slavoj Žižek dirigiu-se aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street, acampados na Liberty Plaza em Nova Iorque. Entre muitas outras coisas, contou a seguinte piada:

Na antiga RDA, um trabalhador alemão consegue emprego na Sibéria. Sabendo que a sua correspondência será lida pelos censores, combina com os amigos:“Se receberem uma carta escrita a azul, o  conteúdo é verdadeiro; com tinta vermelha, é falso”.
Os amigos receberam a primeira carta escrita a azul: “Por aqui tudo é maravilhoso: a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais…, a única coisa que não temos é tinta vermelha.

Não é essa a situação que vivemos até hoje? perguntava Žižek.
A única coisa que falta é a “tinta vermelha”, isto é, faltam-nos novos conceitos.  Os termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos”, “dívida”, etc.  – são termos que mistificam a nossa perceção da situação.

O atual sistema financeiro alterou toda a estrutura de poder e nós continuamos a usar os velhos conceitos para (tentar) compreender uma nova realidade.
Gilles Deleuze dizia que a tarefa da filosofia é criar conceitos. Pois bem, estamos mesmo a precisar deles.
 

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