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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

No princípio era a dívida

David Graeber, Dívida: os primeiros 5000 anos


O livro Dívida: os primeirs 5000 anos de David Graeber é uma obra fundamental para compreender a dívida, uma longa história com milhares de anos.
Aqui fica a minha leitura-resumo deste livro imprescindível que nos apresenta uma "versão da história" muito diferente daquele que circula por ai todos os dias.
 
 
A dívida baseia-se no poder absoluto da riqueza: é a acumulação de excedentes, nascida da desigualdade e da propriedade, que permite que uns tenham o que falta aos outros. A dívida é por isso também um modo de submissão: gerava a escravidão dos devedores faltosos, que perdiam as suas terras e a li­berdade para o seu novo senhor.
 
O antropólogo David Graeber conta a história da dívida, que começou há 5000 anos. Este autor coloca a economia da dívida como fundamento para a compreensão da economia global, senão mesmo da história em geral, a partir da qual entendemos a vida moderna. Nessa economia da dívida, o seu registo permitiu a extensão dos mercados, muito tempo antes do início de circulação da moeda cunhada. A moeda corrente era a dívida.

Considera que existe algo na natureza quantitativa da dívida, isto é, no modo como conseguiu “despersonalizar” as relações sociais humanas, que a torna numa força absolutamente poderosa na civilização. A dívida, como a conhecemos, resultou da capacidade de transformar obrigações morais em números, e, seguidamente, do poder de usar esses números para justificar atos (violentos) que não poderiam ser justificados moralmente de outra maneira. E nada disto tem a ver com um comportamento natural de mercado.


Hoje aquilo que o FMI faz com os países do Sul Global é apenas uma versão moderna de uma história bem antiga: credores e governos afirmam que existe uma crise e que os devedores, obviamente, têm que pagar suas dívidas.

A “tábua rasa” mesopotâmica, os jubileus bíblicos e as leis medievais contra a usura no Islão e no Cristianismo evitavam que os mais pobres caissem na servidão e se tornem escravos dos ricos.

Mas, o que sucede hoje? Em vez de se criarem instituições para proteger os endividados, criaram-se enormes instituições, à escala mundial, como o FMI, o Banco Mundial ou as agências de rating, destinadas a proteger os credores. Estas instituições decretam - contra toda a lógica económica - que nenhum país endividado pode declarar a suspensão do pagamento. Não se discute qualquer “perdão” da dívida, o dinheiro deve ser retirado, especialmente aos membros mais vulneráveis da sociedade, onde é mais fácil retirá-lo, vidas inteiras acabam por ser destruídas e milhões de pessoas morrem, simplesmente porque “bem, eles têm que pagar as dívidas”.

Segundo Graeber, a dívida é a arma mais potente já usada pelos poderosos para convencer as pessoas de que elas têm que obedecer ao seu poder e, ainda por cima, tudo por culpa delas mesmas que se endividaram.


No seu livro, Graeber desmonta as ideias do senso comum sobre a dívida e mostra de que forma as sociedades humanas, desde a antiga Suméria até aos dias de hoje, lidaram com a responsabilidade dos credores nos planos económico, legal e moral. Segundo ele, ao contrário do que se pensa habitualmente, a dívida surgiu antes do dinheiro, os sistemas de crédito vieram primeiro, e as moedas foram criadas muito tempo depois. Os primeiros registros que existem do sistema de dívida e crédito datam de 3000 anos antes de Cristo, embora seja impossível ter certeza de quando surgiram.

Para este autor, é fundamental compreender que o dinheiro não surgiu na forma impessoal, como metal com valor intrínseco, mas originalmente aparece como uma relação de dívida e obrigação entre seres humanos, que se foi transformando numa forma de medida, numa abstração.
(continua)

 
Ver texto completo da leitura-resumo.
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