David Graeber, Dívida: os primeiros 5000 anos
O livro Dívida: os primeirs 5000 anos de David Graeber é uma obra fundamental para compreender a dívida, uma longa história com milhares de anos.
Aqui fica a minha leitura-resumo deste livro imprescindível que nos apresenta uma "versão da história" muito diferente daquele que circula por ai todos os dias.
A
dívida baseia-se no poder absoluto da riqueza: é a acumulação de excedentes,
nascida da desigualdade e da propriedade, que permite que uns tenham o que
falta aos outros. A dívida é por isso também um modo de submissão: gerava a
escravidão dos devedores faltosos, que perdiam as suas terras e a liberdade para o seu
novo senhor.
O
antropólogo David Graeber conta a história da dívida, que começou há 5000 anos. Este
autor coloca a economia da dívida como
fundamento para a compreensão da economia global, senão mesmo da história em
geral, a partir da qual entendemos a vida moderna. Nessa economia da dívida, o seu registo
permitiu a extensão dos mercados, muito tempo antes do início de circulação da
moeda cunhada. A moeda corrente era a dívida.
Considera que existe algo na natureza quantitativa da dívida, isto é, no
modo como conseguiu “despersonalizar” as relações sociais humanas, que a torna numa
força absolutamente poderosa na civilização. A dívida, como a conhecemos,
resultou da capacidade de
transformar obrigações morais em números, e, seguidamente, do poder de usar esses
números para justificar atos (violentos) que não poderiam ser justificados
moralmente de outra maneira. E nada disto tem a ver com um comportamento natural de mercado.
Hoje aquilo
que o FMI faz com os países do Sul Global é apenas uma versão moderna de uma
história bem antiga: credores e governos afirmam que existe uma crise e que os
devedores, obviamente, têm que pagar suas dívidas.
A “tábua rasa”
mesopotâmica, os jubileus bíblicos e as leis medievais contra a usura no Islão
e no Cristianismo evitavam que os mais pobres caissem na servidão e se tornem
escravos dos ricos.
Mas, o que sucede hoje?
Em vez de se criarem instituições para proteger os endividados, criaram-se
enormes instituições, à escala mundial, como o FMI, o Banco Mundial ou as
agências de rating, destinadas a
proteger os credores. Estas instituições decretam - contra toda a lógica económica
- que nenhum país endividado pode declarar a suspensão do pagamento. Não se discute
qualquer “perdão” da dívida, o dinheiro deve ser retirado, especialmente aos
membros mais vulneráveis da sociedade, onde é mais fácil retirá-lo, vidas
inteiras acabam por ser destruídas e milhões de pessoas morrem, simplesmente porque
“bem, eles têm que pagar as dívidas”.
Segundo Graeber, a dívida é a arma mais potente já
usada pelos poderosos para convencer as pessoas de que elas têm que obedecer ao
seu poder e, ainda por cima, tudo por culpa delas mesmas que se endividaram.
No seu
livro, Graeber desmonta as ideias do senso comum sobre a dívida e mostra de que
forma as sociedades humanas, desde a antiga Suméria até aos dias de hoje,
lidaram com a responsabilidade dos credores nos planos económico, legal e
moral. Segundo ele, ao contrário do que se pensa
habitualmente, a dívida surgiu antes do dinheiro, os sistemas de crédito vieram
primeiro, e as moedas foram criadas muito tempo depois. Os primeiros registros
que existem do sistema de dívida e crédito datam de 3000 anos antes de Cristo, embora
seja impossível ter certeza de quando surgiram.
Para este autor, é fundamental
compreender que o dinheiro não surgiu na forma impessoal, como metal com valor
intrínseco, mas originalmente aparece como uma relação de dívida e obrigação
entre seres humanos, que se foi transformando numa forma de medida, numa
abstração.
(continua)
Ver texto completo da leitura-resumo.
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