Sempre me lembro de ver postais de Natal com imagens que mostravam a
lareira acesa numa sala toda decorada com motivos de Natal e onde pela janela
se via a neve a cair lá fora, ou postais onde se viam os bonecos de neve,
geralmente com um chapéu ou gorro na cabeça e cachecol enrolado ao pescoço,
para além do inevitável nariz feito com uma cenoura, ou aqueles postais que
simplesmente mostravam o Pai Natal bem agasalhado com o seu habitual fato
vermelho e as suas botas pretas.
Os postais de Natal
podiam ser diferentes, mas todos eles ilustravam a mesma ideia: no natal está
frio. E todo aquele cenário da lareira numa sala quentinha ou a neve lá fora a cair, compunham lindos
postais e mostravam como o verdadeiro Natal deveria ser.
Mas no Bocoio,
onde nasci, não havia nada daquilo! Quem é que podia levar a sério um natal
cheio de calor? Mesmo os pedaços de algodão branco espalhados pela árvore de
Natal a imitar os flocos de neve não podiam produzir aquele efeito. Um pinheiro
com pedaços de algodão podia ter um valor simbólico mas não apagava o
incontornável facto do Natal em Angola
ser mais propício a ser passado no calor da praia do que no calor da lareira.
Perante esta
evidência, a minha dúvida de criança era saber se alguém simplesmente se
lembrou de inventar aquele cenário de frio apenas para conceber uma estética
natalícia que produzia lindos postais de Natal , ou se, afinal, o menino Jesus
não tinha mesmo nascido em Angola. Esta
era a hipótese mais terrível, era como se o Natal fosse uma mentira.
Consoante o meu
estado de espirito, acreditava numa ou noutra destas hipóteses, mas sempre
soube que havia ali alguma coisa de “errado”. Se alguma vez cheguei a perguntar, não ficou registado na minha memória qualquer explicação para
este facto. Suponho que, mesmo que tivesse existido alguma explicação, não
seria muito esclarecedora, mas seria apenas mais uma teoria vinda do complicado
mundo dos “adultos”.
Mas, depois lá
vinha a noite da véspera de Natal e a minha atenção era inteiramente desviada
para o mais importante: os presentes! Depois disso, o próprio Natal acabava
sempre por terminar e eu só voltaria a
pensar nestas questões importantantes no ano seguinte, por altura dos postais, que eram o primeiro sinal
a anunciar a chegada do Natal.
Por fim, num
certo Natal, todas as minhas dúvidas se dissiparam.
No primeiro inverno que passei em Portugal percebi logo que devia ser aqui que se
faziam os postais de Natal. Eu própria, de gorro e cachecol, quase parecia um
boneco de neve. Mais tarde percebi ainda que a verdadeira-verdadeira terra dos
postais de Natal afinal ficava lá mais acima, nos países do Norte.
Talvez um dia
ainda vá até à Lapónia e envie de lá um postal de Natal às crianças do Bocoio,
garantindo-lhe que, apesar do ar nórdico dos postais, o Natal na sua terra é tão certo
como em qualquer outro sítio do mundo. E se não festejarem o Natal continuam a estar certos.
Aos povos do Norte, um Natal quentinho e cheio de luz e aos povos do Sul um
Natal fresquinho mas cheio de sol. Talvez um pouco mais de Sul no Norte e um pouco mais de Norte no Sul. O mundo é GLOBAL e é só um.
Um bom natal para si e para toda a sua família, cheio de coisas boas. Feliz Natal ��������
ResponderEliminarEmbora com consideável atraso, aqui vão os votos de um Feliz 2004. Um abraço.
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