"... estava o peixinho, veio o gato e comeu-o…”
A ideia é esta: há uma fila infinita de crianças com um chocolate na mão.
Cada criança dá um chocolate à que estiver à sua frente na fila. Exceto a
primeira criança, que recebeu um chocolate mas não deu nenhum e a última que deu
mas não recebeu.
As “crianças” são os contribuintes, o “chocolate” é a contribuição para a
Segurança social, a “fila” são as várias gerações de contribuintes, a “primeira
criança” são os trabalhadores que se reformaram antes do sistema ter sido
criado (nunca descontaram, isto é, ainda
não tinham o chocolate) e a “última criança” são as atuais gerações que já não têm o chocolate.
O argumento é o seguinte: para a solvabilidade do sistema é necessário
crescimento demográfico e económico e atualmente não temos nem uma coisa nem
outra, logo as atuais gerações mais novas ficam fora do contrato social, ou
melhor numa situação de “egoísmo” social (contribuem mas o
chocolate já foi derretido).
Nesta história, o autor não explica aquilo que, como sociedade,
deveríamos fazer com a primeira criança, mas palpita-me que ficava mesmo sem o chocolate
(a ausência de solidariedade social até nos permitiria ser infinitamente bondosos e caritativos
e vir à televisão falar sobre o banco alimentar e a inestimável colaboração do
pingo doce). Quanto à última criança, diz o autor que faz um “péssimo negócio, mais valia guardar o
chocolate no frigorífico. Essa alternativa corresponderia a um sistema de
segurança social de capitalização, que não é o nosso”.
Capitalização, mais do género contas individuais, um frigorífico cheio de
PPR, estilo fundos de pensões. Ou seja devemos todos contribuir para reforçar o
grande capital financeiro, o mesmo que produz(iu) enormes crises com impacto
negativo no tal crescimento económico e (que declinou, pois) e… nas tais contribuições para a Segurança
Social (que derreteram, pois). E ficarmos cada vez mais nas mãos do sistema financeiro, de “investidores”,
que "derretem" especulativamente as dívidas públicas, como a nossa.
Convém não esquecer que, contrariamente ao anunciado “regresso aos mercados”,
o único sítio onde eternamente regressaremos é ao “clube da bancarrota” (“a probabilidade de incumprimento da dívida
portuguesa subiu – desalojando a posição de El Salvador; o custo dos credit
default swaps (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco
de default) a cinco anos subiu; a trajetória das yields da dívida portuguesa no
mercado secundário foi de subida no caso das obrigações do Tesouro (OT) nos
prazos a cinco e a dez anos”…. Ver aqui mais sobre o nosso brilhante regresso,
depois de tantos cortes.
Lembrem-se disto quando, todas as noites tivermos que gramar com o rol de
comentadores, sem contraditório, no “debate” político televisivo ou quando nos
vêm dizer que o “chocolate derreteu”.
O chocolate não derreteu. Alguém se meteu na fila e comeu-o! Lembram-se daquela
publicidade de natal dos chocolates Regina “… estava o peixinho, veio o gato e
comeu-o…”, pois foi.
Agora, ainda nos dizem para guardarmos os poucos chocolates que restam no
tal “frigorífico” de capitalização para "não derreterem".
Assim, nem o “coelhinho” consegue ir com “o Pai Natal e o(s) palhaço(s) no comboio ao circo.
Assim, nem o “coelhinho” consegue ir com “o Pai Natal e o(s) palhaço(s) no comboio ao circo.
Sem comentários:
Enviar um comentário