Falar para um candeeiro...

domingo, 8 de dezembro de 2013

Pôr o chocolate no frigorífico... para derreter melhor

"... estava o peixinho, veio o gato e comeu-o…”
 
Derreteu-se o chocolate   LUÍS AGUIAR-CONRARIA
A ideia é esta: há uma fila infinita de crianças com um chocolate na mão. Cada criança dá um chocolate à que estiver à sua frente na fila. Exceto a primeira criança, que recebeu um chocolate mas não deu nenhum e a última que deu mas não recebeu.

As “crianças” são os contribuintes, o “chocolate” é a contribuição para a Segurança social, a “fila” são as várias gerações de contribuintes, a “primeira criança” são os trabalhadores que se reformaram antes do sistema ter sido criado (nunca descontaram, isto é, ainda não tinham o chocolate) e a “última criança” são as atuais gerações que não têm o chocolate.

O argumento é o seguinte: para a solvabilidade do sistema é necessário crescimento demográfico e económico e atualmente não temos nem uma coisa nem outra, logo as atuais gerações mais novas ficam fora do contrato social, ou melhor numa situação de “egoísmo” social (contribuem mas o chocolate já foi derretido).

Nesta história, o autor não explica aquilo que, como sociedade, deveríamos fazer com a primeira criança, mas palpita-me que ficava mesmo sem o chocolate (a ausência de solidariedade social até nos permitiria ser infinitamente bondosos e caritativos e vir à televisão falar sobre o banco alimentar e a inestimável colaboração do pingo doce). Quanto à última criança, diz o autor que faz um “péssimo negócio, mais valia guardar o chocolate no frigorífico. Essa alternativa corresponderia a um sistema de segurança social de capitalização, que não é o nosso”.

Capitalização, mais do género contas individuais, um frigorífico cheio de PPR, estilo fundos de pensões. Ou seja devemos todos contribuir para reforçar o grande capital financeiro, o mesmo que produz(iu) enormes crises com impacto negativo no tal crescimento económico e (que declinou, pois) e… nas tais contribuições para a Segurança Social (que derreteram, pois). E ficarmos cada vez mais nas mãos do sistema financeiro, de “investidores”, que "derretem" especulativamente as dívidas públicas, como a nossa.

Convém não esquecer que, contrariamente ao anunciado “regresso aos mercados”, o único sítio onde eternamente regressaremos é ao “clube da bancarrota” (“a probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa subiu – desalojando a posição de El Salvador; o custo dos credit default swaps (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de default) a cinco anos subiu; a trajetória das yields da dívida portuguesa no mercado secundário foi de subida no caso das obrigações do Tesouro (OT) nos prazos a cinco e a dez anos”…. Ver aqui mais sobre o nosso brilhante regresso, depois de tantos cortes.

Lembrem-se disto quando, todas as noites tivermos que gramar com o rol de comentadores, sem contraditório, no “debate” político televisivo ou quando nos vêm dizer que o “chocolate derreteu”.

O chocolate não derreteu. Alguém se meteu na fila e comeu-o! Lembram-se daquela publicidade de natal dos chocolates Regina “… estava o peixinho, veio o gato e comeu-o…”, pois foi.

Agora, ainda nos dizem para guardarmos os poucos chocolates que restam no tal “frigorífico” de capitalização para "não derreterem".
Assim, nem o “coelhinho” consegue ir com “o Pai Natal e o(s) palhaço(s) no comboio ao circo.

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