Escultura com
materiais reciclados : Paulo Graça e Ptolemy Elrington
A nossa vida é feita
de objetos. De centenas, de milhares de objetos. Houve tempos
em que os objetos à nossa volta eram bem menos numerosos e possivelmente
poderia contar-se a história de uma pessoa
através dos seus objetos: onde nasceu e cresceu ou a
que família, religião ou cultura pertencia.
Com a aceleração da
produção capitalista essas particularidades dos objetos esvaziaram-se e transformam-se
em pura mercadoria, um acessório para satisfazer o desejo (infinito)
de consumo. Os objetos são rapidamente descartados, trocados, esquecidos e
poucos são aqueles que continuamos a estimar numa rede de memórias afetivas que
nos ligam a eles e que guardamos numa espécie de "baú" secreto.
Mas os objetos também
podem ser ressignificados. Ressignificar é dar um novo sentido ao objeto, alterar o seu conceito,
perceção ou interpretação original. A possibilidade de
ressignificar objetos será, por certo, uma experiência estética bastante interessante, uma vez
que, a partir de uma mudança ou de uma conversão do olhar, o artista produz uma recomposição da matéria, que, às suas mãos,
ganha um novo sentido.
Significa que a arte e
a capacidade de questionar ou de reinterpretar o mundo já dado, procurando nele novos
significados, existem em muitos lugares, alguns dos quais muitas
vezes nem nos apercebemos. Esses lugares de criação, estética ou outras, possibilitam transpor
barreiras, como as que nos impõem os próprios objetos "fechados" na sua materialidade e imediatez .
Mas a
ressignificação confere ainda a abertura dos objetos a uma outra possibilidade ontológica na medida em que lhes permite sair do seu puro estado de mercadoria.
Numa sociedade em que tudo é mercadoria, a produção artística consegue o efeito extraordinário de reverter a mercadorização
imparável.
Pudéssemos nós dar outro sentido à
mercadoria. Como a estética, pudesse a política des-mercadorizar.
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