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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Dar outro sentido

Escultura com materiais reciclados : Paulo Graça e Ptolemy Elrington


A nossa vida é feita de objetos. De centenas, de milhares de objetos. Houve tempos em que os objetos à nossa volta eram bem menos numerosos e possivelmente poderia contar-se a história de uma pessoa através dos seus objetos: onde nasceu e cresceu ou a que família, religião ou cultura pertencia.
 
Com a aceleração da produção capitalista essas particularidades dos objetos esvaziaram-se e transformam-se em pura mercadoria, um acessório para satisfazer o desejo (infinito) de consumo. Os objetos são rapidamente descartados, trocados, esquecidos e poucos são aqueles que continuamos a estimar numa rede de memórias afetivas que nos ligam a eles e que guardamos numa espécie de "baú" secreto.
 
Mas os objetos também podem ser ressignificados. Ressignificar é dar um novo sentido ao objeto, alterar o seu conceito, perceção ou interpretação original. A possibilidade de ressignificar objetos será, por certo, uma experiência estética bastante interessante, uma vez que, a partir de uma mudança ou de uma conversão do olhar, o artista produz uma recomposição da matéria, que, às suas mãos, ganha um novo sentido.
 
Significa que a arte e a capacidade de questionar ou de reinterpretar o mundo já dado, procurando nele novos significados, existem em muitos lugares, alguns dos quais muitas vezes nem nos apercebemos. Esses lugares de criação, estética ou outras, possibilitam transpor barreiras, como as que  nos impõem os próprios objetos "fechados" na sua materialidade e imediatez .
 
 
Mas a ressignificação confere ainda a abertura dos objetos a uma outra possibilidade ontológica na medida em que lhes permite sair do seu puro estado de mercadoria. Numa sociedade em que tudo é mercadoria, a produção artística consegue o efeito extraordinário de reverter a mercadorização imparável.
 
 
Pudéssemos nós dar outro sentido à mercadoria. Como a estética, pudesse a política des-mercadorizar.






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