Paolo Veronese, A juventude entre a voluptas e a virtus
A
liberdade humana, a possibilidade de escolher entre o bem e o mal tem sido tema
de reflexão e debate político, filosófico e teológico em diferentes épocas e
culturas.
Muitas
vezes, a questão colocou-se de forma alegórica, através de símbolos e imagens,
sendo uma dessas figuras mais comuns a representação da vida humana como
resultado da escolha entre dois caminhos, o do bem e o do mal.
No quadro de Veronese, duas mulheres procuram
arrebatar a escolha do jovem indeciso. Um Hércules, ainda jovem, está numa
encruzilhada entre a Voluptas e a Virtus. Pela sua alegria e ociosidade, a
voluptuosidade promete um caminho mais agradável e fácil, enquanto a virtuosidade
indica uma via mais longa e difícil, repleta de privações. Na encruzilhada
vital, Hércules decidiu-se pela Virtude.
A oposição entre as figuras femininas é claramente
expressa por meio das vestes, da atitude, do comportamento físico e até do
próprio olhar. O pintor representou a voluptuosidade como uma figura ornada de fios
de ouro, que, sentada junto a um tecido brocado em seda e a uma coluna, olha
para o jovem com ar sedutor. A figura da Virtude, de pé, com uma coroa de
louros na cabeça, envolta numa espécie de manto, toca no jovem, como que
agarrando-o e levando-o em passos rápidos. O jovem não volta o olhar para a
Volúpia, mas segue a Virtude, submisso, quem sabe na “confirmação” de uma
responsabilidade ético-religiosa.
Com uma clara referência moralizante, ligada à vida
virtuosa, e erótica, ligada à licenciosidade, a obra enfatiza a questão do
dualismo e da necessidade da escolha. O jovem deve fazer a sua escolha.
Para além do debate político, filosófico e
teológico, a virtude é, e sempre foi, um excelente tópico de propaganda. Paulo
Portas, no seu momento “Hércules na encruzilhada”, dizia ontem que “aquilo que
portugueses conseguiram é um exemplo de esforço pelo bem comum” e “não deve ser desperdiçado com aventuras”. No quadro de Veronese, aquilo a que ele chama “aventureirismo”
estaria naturalmente do lado da Voluptas,
muito contrário à Virtude.
Este governo vai procurar capitalizar a exaltação das
virtudes governativas, como no passado os reis exaltavam as suas virtudes
régias, como protótipos de cavaleiros cristãos, armado de todas as virtudes. É
preciso proteger a confiança”, “garantir que há responsabilidade” num “país
soberano há nove séculos”, diz Paulo Portas.
E claro, a virtude esconde-se na dificuldade. Cortaram-lhe
o salário ou a reforma? Ficou desempregado? Perdeu a casa? Teve a imensa sorte
de ter sido governado pelo virtuosismo das pessoas certas.
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